«que sentir é este sentir dos meus sentidos a sentir?»

«os sentidos são a engenharia da arte e o sentimento o projeto»

sexta-feira, 14 de março de 2008

PURO DESEJO

 

Ninguém fica indiferente a um olhar intenso
Ao desejo consumido nos subúrbios da paixão
Às rosas negras que prostituem os sentidos,
Às arrepiantes metamorfoses fecundas do corpo
Às mutantes vibrações dos lábios, seios e púbis
À forma fálica emergindo da concupiscência encoberta
À luxúria da carne que não domina a ardência febril
Ao ofuscar de um aperto lascivo de sensualidade
Aos remorsos da secreta respiração ofegante
Aos sussurros e gritos de um ser em estado ávido
Ao veneno de saliva deixado pela carícia da língua
Ninguém pode amar o que o coração desmente,
Tudo o que vem e acontece na razão é só puro desejo.


© Jorge Oliveira

Publicado no R.Letras em 04/04/2008
Código do texto: T930740

quarta-feira, 12 de março de 2008

Espírito do Mar






















Até longe vaguei a minha alma
Com o espírito pesado de mágoa,
O meu barco fustigado pela água
Fez dolorosa a vigília sobre a proa
Quando à noite ouvia rochedos falar
Meu corpo encrespado de frio gelado
A fome impiedosa, a comida se havia esgotado,
Sentia o sabor quente do mar glaciar
Defrontado e gasto pelas tempestades
Esmagando o meu coração com o peso da dor
Amargo destino condenado a esperar
Um amor de mulher ausente lá na cidade
Onde amantes podem viver seu amor
Consolo de amigos a festejar a agradável noite
Na mesa o vinho e o pão em risadas de alegria
Gozo e barulho na balbúrdia da cidade
Luzes na ribalta da noite em rebeldia
Não ouvi nenhum som, apenas o rugido do mar
Não!Esperem,ouvi um eco, um gritante gemido!
Parecia vindo de um leito em voz de mulher
Mas que me trouxe de volta a realidade do mar
Era o choro agudo da tempestade que se aproximava
O grito de uma criatura que era ave inocente
Tão pequena e ténue, de nítida voz de água clara
Por entre o lamento do vento cruel e insensível
Trazido na noite branca escurecida de neve
Pelas sombras de granizo que caía no mastro
Ondas violentas a querer o seu grande ego
Da sua maior monstruosa grandiosidade
A caírem como turbilhões de lágrimas salgadas
Que o meu bartedouro não conseguia vazar
E no meu barco sozinho andava perdido
Não havia gaivotas que me pudessem guiar
Só a ansia da voz que me pudesse ouvir
Aprisionado naquele mar imenso, sem fim
Desejei lançar-me ao caminho do mar
Naquele instante vi portos distantes
Perto dos meus parentes aquém, para lá do além
Um romper de uma nova aurora de luz
Trazendo o rumor de uma nova terra
E vagueei com os amigos a caminho de casa
Esperando minha amada, ansiosa porque tardava
Livre do medo eu fiquei da longa viagem
Senti a voz que me dava a esperança terrena
E o meu coração ficou apaixonado pelo espírito do mar
Arvores verdes floresceram nas águas
A cidade bela que tanto ansiava, ergue-se no mar
Campos de flores, planícies verdejantes de amarelo
O meu espírito pairou sobre a extensão dos oceanos
Ansioso e desejoso de mergulhar em suas águas profundas.


© Jorge Oliveira
Publicado no R. Letras, em 02/04/2008

Código do texto: T927351

terça-feira, 11 de março de 2008

Dia Branco





























Hoje senti
que queria o mundo branco,
branca a folha do jornal
escrita a tinta branca.
Um véu branco
em rosto encoberto.
Sentir a noiva de branco,
antes de ser desflorada.
O branco da primeira comunhão,
Com a hóstia de pão ázimo, consagrada .
Atirar pétalas de rosas brancas,
ao soldado que bandeira branca ergue ao alto.
Ler o em linhas brancas ódio e a ambição
e tornar livre o Homem dessa escravidão.
Queria ter a pomba branca a saltar
das minhas mãos e livre voar.
Um mar branco de águas,
para banhar meu corpo em anáguas.
Sentir o cheiro do branco dos lençóis lavados,
antes de uma noite de amor.
Ter numa folha branca este poema escrito
com palavras gravadas em branco de êxito.
Como eu queria ter um coração branco
e pintar uma lágrima branca numa tela cã.
Hoje surgiram palavras cruzadas em areia branca,
sorrisos trocados em murmúrios brancos,
a ternura, a respiração que se escuta em asas brancas.
O branco e só o branco e mais branco queria,
a reflectir todas as cores deste dia.
Só para te sentir de branco...



© Jorge Oliveira
Publicado no R. Letras
Código do texto: T927350

segunda-feira, 10 de março de 2008

HOMENAGEM



















DEDICADO A UM AMIGO QUE FOI A PRIMEIRA
VEZ QUE NÃO FOI VER UM JOGO FUTEBOL
DA EQUIPA DOS NOSSOS FILHOS...

Pagela, o teu nome guardamos com grande afeição.

Gritavas pelo nosso clube como se fosse uma nação.
Hoje os nossos filhos jogaram com grande tristeza
De não ouvir a voz que lhes dava sempre grande proeza.

Se nos fosse possível neste dia ainda te ver,

Com aquela, só tua, singela dedicação e valentia,
Ouvíamos alto dizer “Força, vamos vencer!”.
Tua imagem não vimos, mas a tua voz ouvimos todavia.

Em nós tu não morreste, vives depois da morte,

Com o laço que deixaste entre nós desta união forte.
Este soneto é dos amigos, dos pais, dos filhos, de mim…

Para a voz que ainda ouvimos com tal intensidade

Que sempre com amor será recordada em saudade,
Espalhada pelos estádios de futebol em flores sem fim.

© Jorge Oliveira 2.MAR.08


Publicado no R. Letras
Código do texto: T923500
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