«que sentir é este sentir dos meus sentidos a sentir?»

«os sentidos são a engenharia da arte e o sentimento o projeto»

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

despedida


não não me digas adeus
deixa-me apenas
fitar nos teus olhos
este momento
que me resta de despedida
encoberto pela tua face
e um sorriso triste

que é feito do provir?
um rasgo da última viagem
na sombra que vem
e que eu ouso permitir
antevendo a ausência
que não pode acontecer
e tudo sucede
num ser e não ser
de um ter sem te ter

doce contradição
neste instante soturno
tão breve o nosso olhar
se reteve no sol do sul
antevendo o luar noturno

leve momento que passou
nesta erma solidão


dou um passo e sigo
recolho as mãos aos bolsos
para as proteger do frio…


assim foi a despedida

terça-feira, 15 de outubro de 2013

a verdadeira pedra filosofal


hoje apenas quisera falar sem palavras
apenas com o som da música do meu silêncio
(derrubei as sílabas, as letras, os bulícios…)
apenas meus sentimentos se expressaram
nas pedras do pensamento da calçada
no grito do vento que envolve o sem abrigo
nas árvores do jardim agora desprezado
no rio onde ecoa o pensar da amargura fria
trazida na corrente de um monte abandonado
de um ser imerso num oceano de solidão
(um corpo perdido no meio do nada)
de quem bem longe de mim eu não vejo chorar
o qual nunca ninguém escreveu ou ouviu falar
onde o céu é apenas um pedaço pequeno
de um punhado de estrelas cintilantes ao destino
onírica visão de uma vida esquiva ao sorriso
que depressa, flutuando, chega de novo ao rio
onde se sente um pequeno vagido ou ímpeto
que não deixa adivinhar se é choro ou sorriso
E eu não pranto nem rio mesmo que seja ilusão
quero estar em silêncio, ouvir o gemido,
entender a razão de onde vem essa emoção
estar atento para não perder este único momento
de ouvir neste silêncio o verdadeiro sinal do coração
esta valiosa tesouro há tanto procurado
que os alquimistas ainda não a encontram

a verdadeira pedra filosofal

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

o meu diário


não olhem para mim
não leiam o que escrevo
eu não guardo nada
apenas o meu rosto
e um diário
só com a ilusão timbrada
não conheço as palavras
nem procuro conhecer razões
dessa ausência em forma
de certeza rabiscada

moro numa redoma
de folhas brancas
à espera de serem escritas
por seres eruditas
com verbos já esgotados

não sou a metade de nada
nem o princípio nem o fim
não tenho lágrimas
só emoções a definir
um silêncio de sensações
aqui estou sem mim
neste diário feito assim
escrito com o vento
que vem através de ti

e me diz sem eu saber
o que chega da alma
é um tudo e um nada
(voz de um horizonte de bruma)
silêncio desconhecido

não sei se este é o modo
que deveria ter vivido
o que ando a fazer?
a encontrar o desejo
sem ter o seu prazer?

será insano não perceber
este diário que escrevo
coisas que se compõem
sem se poderem ler ou ver
(palavras nunca ditas
nem nunca se irão dizer)

será este meu diário
uma verdadeira convicção
distinta de qualquer ilusão?
será que os meus dedos fingem
para minha alma não padecer?
mas para quê querer saber
se o meu diário é uma crença?
haverá alguma diferença?
sem a certeza da (in)compreensão
peço a alguém por ai

a alguém que seja ninguém
que acabe este diário
e o mostre para mim
(deixo estas linhas em branco
por entre espaços babilónicos…)
... ______________________
________________________
_______________________...

leve tão leve este explicar
incólume às mãos de ninguém
sem deixar rasto do seu gesto
para manifestar a sua presença
só sei que pertence a alguém
que me trocou o não pelo ser
que prolongou um sonho
sem eu próprio saber
(o diário ficou por escrever)
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