«que sentir é este sentir dos meus sentidos a sentir?»

«os sentidos são a engenharia da arte e o sentimento o projeto»

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O DIFERENTE É IGUAL

























As minhas mãos são de barro
tentam esculpir outras formas
de sentir a poesia…

Moldo formas iguais
e já não sou capaz
de ser diferente
a criar formas reais
ou imaginárias…

As palavras ou se derretem
com o calor imenso da fornalha
ou se partem com frio da alma…

Pego nos cacos
e fechei-os dentro do armário
restam os utensílios desarrumados
na angústia e tortura
das páginas do livro branco
borrado e pisado pelos tempos
(nem há formas de medos!)

Já não posso mais…
As minhas mãos são de barro
os meus sonhos estão partidos
e os meus dedos estão quebrados

Só o forno aceso
a queimar a mentira de um passado
espalhando cinzas pelo fundo
na procura de um novo futuro

As paredes da minha oficina
olham para mim pasmadas:
nem o próprio tempo
apagará estas imagens
que não criei nem existem
- o diferente é sempre igual!

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

HOUVE...




















E a chuva recomeçou
com ela veio o vento
os relâmpagos e trovões
como quem resmunga comigo
em oitavas superiores
de agudas sinfonias
numa ansiedade
infrene e desastrada

Agora, tudo são escombros
que carrego aos meus ombros:
de um outrora coração
que te penetrou
e um corpo que te amou
E entre um silêncio
e outro te sonhou
num tempo que já passou

E a tua imagem embaciada
esboça a palavra branca
de uma quase saudade
e de irrisória dor

E vi uma luz vinda do céu
Seguida de um bramido
Que se espalha na cidade inteira
Será revolta ou será sentir?

A chuva desaba mais intensa agora
Talvez seja das lágrimas
que vêm com o cair das águas…

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

algures num lugar entre a terra e o céu


algures num lugar entre a terra e o céu há uma árvore caduca que nasceu
e que morre quando em vez para voltar a sentir o valor da vida que alguém lhe deu.

… e assim sou eu!

Nunca a vi por ai, não a conheço…
… mas chega até mim a sua vida e morte.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

MULHER BONITA




























Há tanta mulher bonita
fazendo amor por ai
olhos a passar na minha vista
indiferentes ficam de mim

Mulheres de corpo a arder
que nunca me dizem sim
outros machos vão querer
para se entregarem até ao fim…

Desejos que se encobrem
por detrás de um breve olhar
vontades de sentir corpo de homem
em outro exigir de amar e gritar

Desnudam seus seios
- nem os deuses mandam em si
tornam sedosos os arrepios
(há sempre quem se perde assim!)

O corpo faminto se entrega
esbelto, nu pede o desejo
e mais se afirma, menos nega
euforia da forma que não é anjo

Roupa despida ou por despir
roupa rasgada ou atirada no chão
apenas bem fundo querem sentir
o falo que lhes dá tanto tesão…

E eu aqui masturbo as palavras,
de quem neste momento é amada
em outros lugares e camas várias,
a sentir tudo e não sentir mais nada.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O ÚLTIMO BEIJO





























Procurando por mim
pedi à sombra
do esquecimento de meus lábios
para morder as raízes dos cravos
e repousar em minha boca
em bebedeiras de saliva
gaguejada pela memória
sugada em rios de seiva
até queimar o corpo
ao encontro do regresso
do sinal de um beijo
mas é tanto o azul do céu impiedoso
que me perdi por ai
sem conseguir seguir
o rasto por onde passa o desejo
e acabo de novo
sem saber de mim
e do último beijo.
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