«que sentir é este sentir dos meus sentidos a sentir?»

«os sentidos são a engenharia da arte e o sentimento o projeto»

sábado, 4 de dezembro de 2010

onde estás esta noite?


porque não vens?
se este frio de inverno
cobre todas as flores

porque não vens?
se a noite está dormente
e eu te sinto nua

sei que só deixei para trás
os teus olhos
e trouxe as sinfonias
de sibelius comigo

mas não te encontro!

onde estás esta noite?

tu começas aqui






















tu começas aqui

nestas águas revoltas
que inquietam os sentidos
oceano imenso e profundo
e eu tão pequeno sou perante ti
tenho-te frente aos meus olhos
mas jamais te posso alcançar

o mar em ti

diante esta falésia onde te assisto
fim e o principio do teu ser
rosa que cresce nas águas
em azul de algas perfumadas
que eu sinto salgadas
por terem vindo de tuas lágrimas

e a tua alma por fim

no silêncio sussurrando baixinho:
- este é o lugar onde o amor começa
mas eu não sou naufrago perdido
(de ilha rara ainda por descobrir)
para encontrar teus mistérios perdidos
tesouros que guardas intocados

e tu és assim

por entre tormentas e marés calmas
com a tua serenidade profunda
da fé que te guia neste pélago
onde lá longe um horizonte
com cheiro de ternura de mãe
protege botões de rosas vermelhas
a perfumar toda a aragem

- livres deitam suas pétalas à deriva
neste mar onde não posso navegar
apenas consigo reter nos meus olhos
a imagem de pura pérola a brilhar


(foto: Brígida Ferreira)

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

o céu e o inferno de minha alma






















este sossego queima
as palavras por dizer
só o perfume de uma rosa preta
desperta a tristeza da consciência

e arde por dentro
esta labareda de diamantes
espalhando fumo de silêncio
por entre as letras fulminantes
das palavras escritas
na memória do meu ser

a tinta quente e vermelha
do sangue que corre
neste livro vivo de sentidos
que não se lê nem se vê
é apenas um fogo que se sente…

esta é a leitura sagrada de mim
o céu e o inferno de minha alma

(foto: Brígida Ferreira)

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

último desejo




























as coisas que o sol faz no céu quando está louco
por existir um homem na terra com o desejo de estar morto

desfaz sua luz pouco a pouco por todo o infinito
e faz eco das palavras do poeta num grito

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

esta imagem cega de ninguém


















sei que te vi e que te irei ver
não sei se era isso que queria
o que tanto busco não existe
encontrar o quê? amar quem?
esta ondulante mas certa ilusão
engana de verdade o coração
e eu só sei que minha alma a tem

este estado de ser delirante
de não querer mas desejar alguém
de amar sem poder amar
este não acabar ir pela vida além

fere arde e vagueia por mim errante
esta imagem cega de ninguém

PORQUE ESCREVO?


Seria hipócrita dizer apenas que escrevo não para mudar o sentido do mundo mas para que o sentido do mundo não me mude a mim.

Por mais que alguém o queira negar, quem escreve não escreve só para si, para quê escrever o que estamos sentindo se por vezes, pelo menos eu, tão pouco consigo exprimir o que sinto e se o sinto que necessidade tenho de o por no papel?

No meu caso eu terei que voltar aos meus tempos de criança e ao momento em que sai do útero da minha mãe com um irmão siamês. Este meu irmão, embora siamês é um gémeo falso, em tudo igual a mim, mas sem corpo, apenas alma.

Eu sou quem detém o pensamento e o coração ele a alma e o espírito eu sinto as emoções e os sentidos ele a aura e os sentimentos que não se explicam.

Quando era criança ele acompanha-me sempre para a escola, era praticamente o único que estava comigo. Enquanto os outros meninos brincavam à bola, nós ia-mos par o recreio brincar ao faz-de-conta.

Eu falava e fala exaltava-me com os meus cinco sentidos, tudo o que via, ouvia, tocava, cheirava ou provava eram situações de grande excitação para mim, principalmente quando algo era novo e queria, numa maneira muito infantil e meio desajeitada, tentar transmitir toda aquela emoção para ele.

Ele não falava, ou melhor falava, mas não tinha sentidos, falava com o seu silêncio com a sua alma e nessas alturas, eu parava para o ouvir e quando eu não entendia alguma coisa ele acaba sempre por se explicar através do seu silêncio e tudo aquilo que eu não conseguia na realidade ver podia senti-lo através dele. Tudo o que eu não compreendia nem podia alcançar com os meus sentidos, eu sentia dentro dele essa compreensão.

Era ele quem se deitava comigo todas as noites e me segregava ao ouvido: faz um soninho descansado que eu vou sonhar para ti. Todo o dia eu ansiava a noite para me ir deitar ao seu lado para continuar em sonhos os sonhos dos dias anteriores que eram sempre intermináveis. E para não me esquecer comecei a escrever.

Apesar de já ser homem bem crescidinho nunca separei o cordão umbilical que foi comum aos dois e sempre nos uniu. Era através dele que a sua alma comunicava com ao meu coração com o seu silêncio. O meu corpo, agora, ganhava outras formas, outras exigências, vícios e tentações e os meus sentidos mais bem preparados e apurados entraram na fase de desconfiança e questionavam a existência do irmão siamês já que não conseguiam encontrar mas ninguém com um irmão assim e houve então um período de grande depressão que atirou ambos para uma crise existencial.

Havia falsidade, inveja, ambição desmedida, enfim um inúmero de males sociais, por vezes, que eu também o diga, a pare com algumas boas pessoas. Mas o facto é que a generalidade das pessoas, as formas das coisas e a vida iam perdendo a sua inocência e tudo parecia ser explicado pela ciência e os males da sociedade acabavam por ser aceites como situações normais adquiridas nesta vida, como se um mal necessário se tratasse.

Dai ter surgido a necessidade de comunicar com ele de novo,  sempre fomos uns tagarelas os dois, mas tudo ficava ali entre ele e eu e como nada era escrito, apenas os sonhos eram lembrados e por vezes havia a duvida do disse que disse ou sentiu que sentiu então pensamos que era melhor ser escrito, por linhas mestras, não na sua total integridade, já que era impossível materializar os sentimentos e vice-versa.

Assim, de vez em quando lá nos lembramos que precisamos de escrever o que somos e discutimos, sim porque nós somos siameses partilhamos muitas sensações, mas como quaisquer outros gémeos siameses, temos as nossas diferenças, um é todo materialista e já o outro é todo espiritualista.

A maior diferença talvez que existe entre os dois é que, por vezes, eu firo os sentimentos dos outros, pensando que posso ser dono das suas existências no momento, sem ontem ou amanhã, vivendo e entregando-me ao presente, enquanto ele é o passado e o futuro pouco intervêm no meu presente e fica sentido com as minhas acções, mas eu digo-lhe sempre em tom de brincadeira: «isso é porque tu não tens corpo!» Logo ao que ele responde: «e tu não tens alma».

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

é minha a cereja deste poema




















podia chamar-te princesa
e sonhar-te às noites
com “o feliz para sempre”
mas princesas não amam poetas

prefiro chamar-te cereja
apenas uma forma mais doce
que outra qualquer que seja
e “feliz para sempre” fosse
com essa cor e gosto que inveja
outros lábios que não os meus
já que seria eu a morder os teus

é minha a cereja deste poema
e na ponta dos meus dedos
nascem flores de cerejeiras
à beira mar

domingo, 28 de novembro de 2010

só eu sei de ti e de este amor

























não te posso tocar
deixei de querer a noite
apenas gestos de geada de madrugada
a abandonar meu corpo tentador
eu jamais te poderei ter…

mas posso sentir-te
e sentindo-te sei da minha alma
fingindo ler-te num livro qualquer
em forma de romance sempre inacapado
que escritor algum ousa converter
na memória de um poema ou canto…

… só eu sei de ti e de este amor
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