«que sentir é este sentir dos meus sentidos a sentir?»

«os sentidos são a engenharia da arte e o sentimento o projeto»

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

irá chegar...



deixa os pássaros voar
vem procurar a tua alma
no meu corpo
eu abro meu  coração
deixa-os pousar
talvez por ai criem ninho
pouco  interessa
se não te encontro
toda a forma da vida
tem de ser definida
se eu nasci para te amar
de algum jeito a minha alma
encontrará o teu coração
mesmo que o pássaro
azul vindo sul
ainda não tenha chegado
ou se ouviu falar
se irá chegar


quarta-feira, 13 de novembro de 2013

não te encontro


dentro de mim
dorme um segredo
creio que se ri
deste meu medo
de acordar sem ti

não encontro a razão
deste meu grande mal
que me leva a temer
este sentir anormal
do medo de te perder

e como sabes tu bem
esconder-te neste ser
que não te consegue ver!...

como posso eu vencer
o que é mas não pode ser
este nada em mim a viver

como posso eu amar
o que nunca irei ter

procuro-te em cada noite
mas não te encontro


quarta-feira, 16 de outubro de 2013

despedida


não não me digas adeus
deixa-me apenas
fitar nos teus olhos
este momento
que me resta de despedida
encoberto pela tua face
e um sorriso triste

que é feito do provir?
um rasgo da última viagem
na sombra que vem
e que eu ouso permitir
antevendo a ausência
que não pode acontecer
e tudo sucede
num ser e não ser
de um ter sem te ter

doce contradição
neste instante soturno
tão breve o nosso olhar
se reteve no sol do sul
antevendo o luar noturno

leve momento que passou
nesta erma solidão


dou um passo e sigo
recolho as mãos aos bolsos
para as proteger do frio…


assim foi a despedida

terça-feira, 15 de outubro de 2013

a verdadeira pedra filosofal


hoje apenas quisera falar sem palavras
apenas com o som da música do meu silêncio
(derrubei as sílabas, as letras, os bulícios…)
apenas meus sentimentos se expressaram
nas pedras do pensamento da calçada
no grito do vento que envolve o sem abrigo
nas árvores do jardim agora desprezado
no rio onde ecoa o pensar da amargura fria
trazida na corrente de um monte abandonado
de um ser imerso num oceano de solidão
(um corpo perdido no meio do nada)
de quem bem longe de mim eu não vejo chorar
o qual nunca ninguém escreveu ou ouviu falar
onde o céu é apenas um pedaço pequeno
de um punhado de estrelas cintilantes ao destino
onírica visão de uma vida esquiva ao sorriso
que depressa, flutuando, chega de novo ao rio
onde se sente um pequeno vagido ou ímpeto
que não deixa adivinhar se é choro ou sorriso
E eu não pranto nem rio mesmo que seja ilusão
quero estar em silêncio, ouvir o gemido,
entender a razão de onde vem essa emoção
estar atento para não perder este único momento
de ouvir neste silêncio o verdadeiro sinal do coração
esta valiosa tesouro há tanto procurado
que os alquimistas ainda não a encontram

a verdadeira pedra filosofal

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

o meu diário


não olhem para mim
não leiam o que escrevo
eu não guardo nada
apenas o meu rosto
e um diário
só com a ilusão timbrada
não conheço as palavras
nem procuro conhecer razões
dessa ausência em forma
de certeza rabiscada

moro numa redoma
de folhas brancas
à espera de serem escritas
por seres eruditas
com verbos já esgotados

não sou a metade de nada
nem o princípio nem o fim
não tenho lágrimas
só emoções a definir
um silêncio de sensações
aqui estou sem mim
neste diário feito assim
escrito com o vento
que vem através de ti

e me diz sem eu saber
o que chega da alma
é um tudo e um nada
(voz de um horizonte de bruma)
silêncio desconhecido

não sei se este é o modo
que deveria ter vivido
o que ando a fazer?
a encontrar o desejo
sem ter o seu prazer?

será insano não perceber
este diário que escrevo
coisas que se compõem
sem se poderem ler ou ver
(palavras nunca ditas
nem nunca se irão dizer)

será este meu diário
uma verdadeira convicção
distinta de qualquer ilusão?
será que os meus dedos fingem
para minha alma não padecer?
mas para quê querer saber
se o meu diário é uma crença?
haverá alguma diferença?
sem a certeza da (in)compreensão
peço a alguém por ai

a alguém que seja ninguém
que acabe este diário
e o mostre para mim
(deixo estas linhas em branco
por entre espaços babilónicos…)
... ______________________
________________________
_______________________...

leve tão leve este explicar
incólume às mãos de ninguém
sem deixar rasto do seu gesto
para manifestar a sua presença
só sei que pertence a alguém
que me trocou o não pelo ser
que prolongou um sonho
sem eu próprio saber
(o diário ficou por escrever)

sábado, 12 de outubro de 2013

todo o meu silêncio


sei que não sei dizer muito
tudo o que digo é pequeno
tão pequeno como este tudo
que sei hoje:

- um homem não pode chorar
enquanto as estrelas brilham
a água de suas lágrimas
apaga a luz que as iluminam…


e tudo o que fica é nada
cheio de todo o meu silêncio



eu sempre volto numa qualquer biografia


preso a esta vida
ando por ai ambulante
com mortes súbitas nos solstícios
socorrido com choques
para me reanimarem nos equinócios

e assim vivo entre estações
imigro para universos vazios
numa viagem cheia de sentidos
e descanso em oásis perdidos
onde sou quem sou e não sou
alma e corpo e body and soul

e entre as noites e os dias
acumulo e consumo energias
em frenéticas viagens
onde sou predador ou presa fácil
sonho a fantasia disfarçada
num qualquer silêncio solitário
e grito a realidade vivida
por entre a multidão insulada

este ciclo de vida
faz-me regressar sempre um dia

mesmo depois da minha morte
na luz do sol ou na noite fria

entre um equinócio ou solstício
eu sempre volto numa qualquer biografia


sábado, 30 de março de 2013

morte e ressurreição


de que servem as inquietações

se existe sempre um mar

feito de todas as lágrimas choradas

desde o principio do géneses?


é este o meu porto de abrigo

onde me aconchego abraçado

nos braços dos oceanos


é assim que entendo

o sofrimento de um homem

a sua morte e ressurreição


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

se porventura existes em mim



ainda sonho de madrugada
porque as noites são agitadas
e ao fim da tarde
sinto um silêncio diferente 

já faz tempo, muito tempo
que me arrasto nesta insónia
esta espera é longa e demora
e não consigo apagar da memória
a figura invisível de ti

e é assim que eu amo
se porventura existes em mim

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

onde é que me perdi?



todos os dias
se repete o mesmo

sinto
(mas como eu sinto)

o céu a gritar
os campos a gemer
montanhas a sofrer
e mares agitados

passo por gente
triste e alegre
que não conheço ou vi

mas tudo e todos
chamam
pelas palavras caladas
em mim

volto-lhes as costa e digo
o tempo não é meu amigo

eu ainda não cheguei
eu ainda não vim

onde é que me perdi?

teu olhar no meu



é pesado demais
esse teu leve olhar
sobre  os meus olhos
que não suportam
o forte peso dos teus

apertam-me os sentidos
tão fortemente
qual dor carente

cega-me
por breves momentos
com a cor de tua íris
para que eu possa
sentir a mesma leveza
do teu olhar no meu

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

levei-lhe umas sandálias...


vi uma criança à beira da estrada
pareceu-me abandonada
e pelo frio amargurada

quis roubar alguns nuvens
para lhe fazer uma casa de pedra
e fui com ela de viagem
até à próxima primavera

abri uma porta para o céu
para no azul voar com os pássaros
cortar o vento em direcão ao mar
os campos e montanhas admirar
afinal toda a criança é um guerreiro
que sabe montar um cavalo alado

deixe também uma janela aberta
no sentido do caminho das estrelas
para à noite passear com elas
entre tempestades de prata
no fascínio do som dos sonhos
a verterem de dois olhos risonhos

ah… quase não me lembrava!
levei-lhe umas sandálias...


Direitos da imagem: can stock photo

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

dentro de mim sinto


que faço eu de ti
se porém não sei de mim?

já me faltam os poemas
acabaram-se as palavras

a poesia são apenas lágrimas
nada nasce no que sou
acabou a inspiração
que nunca antes começou

só compreendo o meu coração
sou criança a aprender a vida
com problemas de expressão
e por nada saber de amores
dou-te o que conheço: flores

acabei agora por escrever
que sou mera  ilusão
tudo o que não queria ser
acaba nesta conclusão
 
de mim continuo sem saber
e de ti só recordo o sorriso
de tamanha admiração

que dentro de mim sinto

sábado, 19 de janeiro de 2013

almas e corpos em orgia


retirei a capa dos meus sonhos
a andar por ai nas noites escuras
e em golpe rápido cortei-lhe a garganta
para que a sua voz tentadora
não enfeitice mais ilusões

ainda a confundo nas sombras
abano a solidão para ter a certeza
que afastei todo o sofrimento
já não está quem não chega

a chuva de hoje lançou à sarjeta
esta falsa vida de querer ser
este inexplicável olhar de ver
almas e corpos em orgia



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