«que sentir é este sentir dos meus sentidos a sentir?»

«os sentidos são a engenharia da arte e o sentimento o projeto»

sexta-feira, 25 de abril de 2008

UM BEIJO TEU























Hoje senti um beijo teu
Sabias a sal e a luar
Queimei-me no sol do teu olhar
Falamos do nosso tempo
Quando eras um tronco que ardia
E eu a primavera verde que nascia
Dançamos em torno de uma camomila
Arrepiámos uma meiga carícia
Num sopro à luz da noite
Até ao apagar-se da madrugada
Nas águas cantantes do mar.

© Jorge Oliveira
Publicado R. Letras em 24/04/2008
Código de texto: T961250
UM BEIJO TEU

quinta-feira, 24 de abril de 2008

ALMA PERDIDA




























Segue-me este tormento da minha fala,
Ouvida sem falar nas palavras não ditas.
Será que tudo vem da minha ausente alma
Ou são sonhos em meras solidões eruditas?

E se são os devaneios das minhas fantasias
Trazidos na brisa suave desejada pelo vento?
Se assim for, são verbos predicados de magias
Conjugados em outra vida de um outro tempo.

Apelo ao além a todos os místicos divinos
Que nos gritos de silêncio dos seus hinos,
Ao som de violinos, digam que não sou louco.

Apenas meu corpo não encontra a sua alma,
Em contínuos murmúrios sussurrantes sem calma,
Pelo desespero de encontrá-la pouco a pouco.

© Jorge Oliveira

Publicado no R. Letras em 24/04/2008
Código de texto: T960410
ALMA PERDIDA

quarta-feira, 23 de abril de 2008

DÚVIDAS DE POETA


























Se escrevesse poemas de amor
Que grande poeta para ti eu seria
Se me exaltasse em sentimentos e emoções
Que bonitas palavras escreves, assim o dirias
Mas eu mentiria se te falasse de amor
Porque de amor nada sei
Eu mentiria em todas as palavras
Que por metáforas, versos ou sinfonias
Tentassem transcrever o que sentia
Porque as palavras sempre mentem
São palavras vaidosas e orgulhosas
Acham-se sempre capazes de se fazerem entender
Mentira, é tão grande esta mentira
Eu não tenho palavras para te dar
Lamento este desvio, mas não consigo representar
Nada consigo escrever nesta folha de papel
Como posso eu, tu, eles, nós falar de palavras
Se não sabemos se estamos a sentir ou a pensar
Ou se estamos a pensar em vez de sentir
Se tu consegues lidar com esta indecisão
Dares cor ao branco deste papel negro
Se percebes os conteúdos das palavras
Se encontras no silêncio o seu escritor
Se descobre e vês uma luz a brilhar
Se decifras os sentimentos e o amor
Peço-te, imploro-te, mostra-me o seu autor
Diz-me que as descodifique para mim
Que me mostre o seu grande mistério
Pois eu aqui nunca consigo
Acabo sempre com as mãos frias
Imploro-te uma e outra vez mais
E talvez por muito mais te voltarei a implorar
Nem por um instante hesites
Dá-me esse enigma da resposta
Mas, peço-te, por favor,
Não o escrevas com palavras

© Jorge Oliveira

Publicado no R.Letras em 23/04/2008
Código do texto: T949322
DÚVIDAS DE POETA

terça-feira, 22 de abril de 2008

FICA-ME





















Fica-me o som
Por entre as palavras
Esgotam-se as almas
De espíritos longínquos
Ondas de névoa
Entre labirintos
Tudo parece efémero
Nada é eterno

Fica-me o eco
Das palavras não ditas
Ventos que sopram
Entre olhares
Silêncios gritantes
Em arenas despidas.
Almas perdidas
Em universos de magia

Fica-me o silêncio
Dos gritos vibrantes
Do ser e não ser
Do tudo e do nada
Do vácuo ao infinito
Das trevas à luz

Fico eu, ficas tu
Ficamos na multidão
E talvez não fique mais nada
Que esta mera ilusão.
De em nada estar
Mas em tudo ficar.

© Jorge Oliveira
Publicado no R. Letras em 22/04/2008
Código de texto: T957310
FICA-ME

segunda-feira, 21 de abril de 2008

VEM APENAS UM DIA SONHAR





















Vem, nada de ti sei, o que conténs.
Chamo por ti, uma só vida não chega
Para saber quem és, de onde vens.
Vem, vem comigo, dá-me a tua mão.
Toma estas palavras cheias, não em vão.
Surpreende-me, enquanto não envelheço.
Vamos passear nas estrelas do chão
E pelo céu nos caminhos de terra que esboço.
Vem, vem assim como estás,
Nua e bela, simples como és...
Neste castelo feito de noite lilás
E por onde vais, por onde vens
Crescem rosas no pisar dos teus pés
Vem, vamos subir telhados
Fazer ventos por nós soprados
Para que tudo se torne no nosso alento
De gestos eternos em mundos desabitados.
E eu, quero ter-te assim em brumas de mar,
Em vulcões de lava que me alimento
Subindo à boca, queimando o tormento
Do desejo incapaz de se fazer acalmar.
Vem, tu e eu saborear a doce essência
Perder-nos no sono do nosso eterno olhar
Levar ao rubro a paixão da ausência.
Vem, tu e eu apenas um dia sonhar.

© Jorge Oliveira

Publicado no R. Letras em 21/04/2008
Código de texto: 795629
VEM APENAS UM DIA SONHAR
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