«que sentir é este sentir dos meus sentidos a sentir?»

«os sentidos são a engenharia da arte e o sentimento o projeto»

sexta-feira, 28 de março de 2008

ILUSÃO DO SENTIDO



















Tu tens morada segura no verde bosque.
Chão imenso da planície até aos montes.
Onde correm rios entre vales e fontes,
Em silêncio inocente de um leve toque.

Minha alma de carne indefesa te persegue,
Em indolente murmúrio de asas de pureza.
Fraco, procuro-te em caminhos da incerteza,
Entre pétreos retiros do teu fiel albergue.

Ó cruel destino, que emerge e se ergue!
Fel que em doce desejo febril se converte,
Por quem, meu procurar, desespero verte.

Na luxúria da ilusão do sentido que te segue
Ando perdido num ardente desejo erradio
Não te vejo…! neste bosque sinto-me vadio.

© Jorge Oliveira

Publicado no R.Letras em 07/04/2008
Código do texto: T934790

quinta-feira, 27 de março de 2008

HARMONIA DELIRANTE





















Peço-te, leva-me junto a ti muito devagarinho!
Vem contar-me os teus segredos bem guardados
No tempo, antes dos tempos, em baús doirados
Escondidos numa magnólia, dentro de um ninho

Protegido por luas lapidadas em vértices estrelados
E pelo frémito de estrelas aladas num céu adjacente
Ofertas de sombras de florestas de sois perfumados
Trazidos pelo arrulho das aves vindas do poente

Peço-te, pelo brilho de meus olhos que aquece!
Fica comigo para sempre, não vás, permanece!
Imploro-te, não tornes este momento dolente!

Peço-te, leva-me aos meus sonhos de criança
Traz-me de volta o enlevo daquela segurança
Recordações da infância de harmonia delirante…


© Jorge Oliveira

Publicado no R.Letras em 07/04/2008
Código do texto: T934794

quarta-feira, 26 de março de 2008

SONHO DE TARDE

















 
Neste eterno suave entardecer,
respiro o luar vindo do mar
que meu ser reanima e faz viver,
com um breve suspiro de ar.

Amor! Eu te estou a perder,
sucumbo à paixão deste dia,
em troca do desejo de te quer,
nesta tarde única de magia:
teimando ser qualquer fantasia.

O ar que respiro já é pouco,
pressinto que vou enlouquecer.
Mas que importa se fico louco,
por ouvir o chegar do anoitecer,
no fôlego que ainda resiste,
de quem já não está só nem triste,
salvo pelo olhar que o está a ver.

Chamei por ti, não sei se ouviste!
este débil sopro foi pura realidade,
neste sonho de tarde de saudade.


© Jorge Oliveira

Publicado no R.Letras em 08/04/2008
Código do texto: T936433

terça-feira, 25 de março de 2008

UM OUTRO CAMINHO




















Num caminho por entre a noite fria,
vi uma árvore carregada de flor,
que tentava crescer na erosão do ar,
mas com peso excessivo, de tantos gomos,
demasiado para os ramos da minha alma.
Um sentimento da fímbria onda branca,
meditando na noite que devora as páginas do mar,
sob o oceano de conchas a formar orquestra
das novas melodias de Chopin (eu as ouvi)…
Gotas borbulhantes bailando na água
que apanhei como bailarinas dançantes,
num ballet fechado em minhas mãos.
Toda a forma real e irreal incontida,
entre águas do céu feitas de vidro
é o mundo que vejo e nunca vi antes.
Um desejo que respiro mas que não escolhi.
Pedi a Isthar para procurar por mim o céu,
que traça as prosas e versos entre um mar de rosas,
que crescem em águas azuis, por entre espinhos.
Definindo e traçando um outro caminho
Até às nuvens que já suspiram a canção de “benvindo”.

© Jorge Oliveira

Publicado no R.Letras em 08/04/2008
Código do texto: T936446

segunda-feira, 24 de março de 2008

O TESOURO






















Nesta noite fria mergulhei
Nas profundas águas de cristal
E desapareci no fundo do mar
Num afago de brisa transparente
Fui levado por mares e correntes
Até ao reflexo do um rosto perdido
(o mais belo de todos os encantos)
Explorei por cada canto o náufrago navio
Feito dos ramos de amendoeiras em flor
(Das mão de um pirata mouro
Que um dia se enamorou por uma princesa de neve)
Levado pelos peixes com asas de borboleta,
Encontrei um espelho de diamantes negros
Ornado de algas verdes e medusas brancas.
E… fez-se silêncio… caiu a respiração… o coração parou…!
Fui assaltado pelo azul do mar, quando enlevado fiquei,
Paralisado no reflexo de dois olhos,
Ora grandes, ora pequenos!
Mudavam em instantes: verdes, castanhos, azuis, negros…!
A rir ou a chorar eles estavam sempre a brilhar.
Eram jóias do tesouro já há muito perdido
Mistérios e segredos escondidos no evo
Resguardados pelas imensa luas, sóis e estrelas,
Adormecidos em cada noite pelo canto das sereias.
Noite após noite, dia após dia, tempestades e bonanças,
Deuses nos mares séculos andaram embarcados
Num desespero demente e inquieto para o descobrir
Rendidos à fatiga, desistiram de o procurar
E, porquê eu? Porque tive eu de o encontrar?
Eu que sou um simples pescador neste mar!
Encontrei no oceano duas gotas de água,
O tesouro onde tudo acaba e o amor se forma,
Escrito na areia branca em pétalas de rosa.


© Jorge Oliveira

Publicado no R.Letras em 08/04/2008
Código do texto: T936449
O TESOURO
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