Queria rasgar a venda dos meus olhos
e abri-los a toda a luz,
para passar incólume os escolhos
que travam os meus passos indecisos…
Queria ver mais o mundo que reluz
para além de mim, em relâmpagos incisos,
de miragem sem imagem e sem cor…
Queria não ser para ver melhor
um mundo transcendente em que toda a gente
sente que há mais vibrações e mais calor;
Um mundo sem um ponto tangencial
impenetrável à sorte universal,
um mundo sem crescente e sem vasante…
Eu queria (pobre de mim…) a angustiante
alucinação vibrante da transcendência.
Em que existir fosse a aparência
de ter os pés firmados na existência
dum solo fugitivo e escaldante…
Eu queria, assim vencido, falar alto,
gritar, sem ser ouvido por ninguém,
vencer esta barreira incerta do além
que me atormenta e morre em sobressalto!
Eu queria a palavra que dissesse
tudo o que sou… e o mundo… e os outros e tudo…
verbo que fez o todo o me fez mudo
que nada sei dizer por muito que escrevesse…
© Jorge Oliveira
Publicado R. Letras em 31/08/2008
Códido de texto: T1106791