«que sentir é este sentir dos meus sentidos a sentir?»

«os sentidos são a engenharia da arte e o sentimento o projeto»

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

A CIDADE




















Madrugadas
de ruídos
dos movimentos
mecânicos
da cidade
trazem
vidas
entre silêncios
escorrendo pelas ruas
olhares discretos
cheiros
intensos
escondem segredos
de almas
perdidas
até ao cair da noite
com as luzes
da ribalta
entre momentos:
- quem fica
quem vai
quem está para vir…
A cidade não
morre
nem tão pouco
descansa
e
as almas?

© Jorge Oliveira

Publicado no RL em 30/07/2008
Código do texto: T1104548
A CIDADE

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

NOITE DE BEETHOVEN




























Chega, chega de sonhos e de tristeza.
Hoje há luar cá fora e uma musica no ar
que faz o meu coração ter a certeza
da verdade de te querer amar e amar…

Vem, chega-te a mim. Não digas nada
- nem sussurros, promessas ou segredos.
Deixa-te ficar neste momento sem fala
para ouvir as vozes dos teus silêncios.

Quero embriagar-me a beber a noite contigo.
Não temes que te deixe cá fora sozinha
Eu daqui não parto, não corro, nem me esquivo
só vou roubar à noite adornos para te fazer rainha.

Vem, vem sentir os prelúdios nocturnos
a vibrarem no vento transparente que vem
nos versos pressentidos, embora mudos,
dos acordes indefinidos de Beethoven.

© Jorge Oliveira
Publicado no RL em 04/08/2008
Código do texto: T1111858
NOITE DE BEETHOVEN

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

FLIRT COM PALAVRAS DESCONHECIDAS





























Elas vêm escondidas.
Não aparecem em meus versos:
envergonhadas e recolhidas
tentam esconder seus gestos.

Elas masturbam a minha caneta,
amam-se no meu papel branco,
deixam vestígios de sémen na silhueta
a fluir na forma do símbolo fálico.

Às vezes gritam, às vezes choram,
às vezes apenas sorriem por nada;
deitadas no leito de quem amam,
se unem a ser uma única amada.

Orgasmos e intensos gemidos:
vindos de sentimentos explosivos,
mas, no entanto, tão perdidos
em busca de alguns versos vivos.

Estas são as palavras e a sua mudez,
algo que meus sentidos não entendem,
mesmo mostrando a sua nudez,
eu não as reconheço nem uma só vez.

© Jorge Oliveira
Publicado no RL em 30/07/2008
Código do texto: T1104550
FLIRT COM PALAVRAS DESCONHECIDAS

terça-feira, 5 de agosto de 2008

QUERIA...






























Queria rasgar a venda dos meus olhos
e abri-los a toda a luz,
para passar incólume os escolhos
que travam os meus passos indecisos…

Queria ver mais o mundo que reluz
para além de mim, em relâmpagos incisos,
de miragem sem imagem e sem cor…

Queria não ser para ver melhor
um mundo transcendente em que toda a gente
sente que há mais vibrações e mais calor;

Um mundo sem um ponto tangencial
impenetrável à sorte universal,
um mundo sem crescente e sem vasante…

Eu queria (pobre de mim…) a angustiante
alucinação vibrante da transcendência.
Em que existir fosse a aparência
de ter os pés firmados na existência
dum solo fugitivo e escaldante…

Eu queria, assim vencido, falar alto,
gritar, sem ser ouvido por ninguém,
vencer esta barreira incerta do além
que me atormenta e morre em sobressalto!

Eu queria a palavra que dissesse
tudo o que sou… e o mundo… e os outros e tudo…
verbo que fez o todo o me fez mudo
que nada sei dizer por muito que escrevesse…

© Jorge Oliveira
Publicado R. Letras em 31/08/2008
Códido de texto: T1106791

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

POEMA QUE NÂO SE VÊ




























Anda traiçoeira a poesia
que a mim chega e arredia
da vida que paço e meço…
Confesso que não consigo,
por mais que sinta o desejo,
por mais que fale comigo,
eu sinto-a, mas não a escrevo.

Ao olhar a folha branca,
meus olhos lêem o nada
na mística escrita que sangra
em tom de mudez embalada.
Tropeçando na sombra e na luz
que ainda nunca transpus.

E os meus dedos me doem
de tanto escrever a minha alma
nas folhas que no incerto caem,
na vontade que não se acalma.

Ficam a escorrer segredos,
- Serão fluidos de medos,
da flácida tinta mole?
Que não se move, nem se lê
nas infinitas palavras em rol
do poema que não se vê?

Por tempo ou por medo…
um dia, sem poesia, já passou,
um novo está para vir
à espera de um novo dia
que ainda não chegou
(nem se sabe se há-de surgir!)

© Jorge Oliveira
Publlicado np R.Letras em 31/07/2008
Código de texto: T1106481
POEMA QUE NÂO SE VÊ
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