«que sentir é este sentir dos meus sentidos a sentir?»

«os sentidos são a engenharia da arte e o sentimento o projeto»

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

LUZ DO HORROR




























Estranha ambição

esta de querer juízos
em subtis estados
defraudadores de equilíbrios
de ungidos passados.

Estranho vício

este de fantasias dos sentidos
que me arrepia e cala
as lunações dos silêncios
que jorram na minha fala.

Estranha doença

esta que me tira a presença
deste corpo paralisado no mundo
no templo profanado da minha crença
onde se prega o verbo surdo e mudo.

sim, sinto estranha dor

que me faz chorar sem qualquer lágrima
será este o choro da dor de amor
pelos vivos que não têm alma?
(sim, esses que matam com a luz do horror!)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

porque me desfazem os sonhos

























porque me desfazem os sonhos
em lágrimas laminadas de bisturi?
porque me falham as palavras
quando mais preciso delas aqui?
onde estão os sonhos e as palavras?
já não durmo nem soletro
faço peregrinações à alma
tudo o que trago é desalento.
(não há milagre que me valha!)
resta-me a sombra imaginária
da lágrima que anteviu a tempestade
e da palavra que foi quase saudade…

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

OS TEUS OLHOS NOS MEUS





















és deusa dos efémeros desejos
que se esconde atrás dos palcos.
eu pertenço-te com uma mão que perdi
que nua em teu rosto pousou,
como asa de pássaro quebrada
em cima de ramos de amendoeira.
e só na outra parte da memória
os meus dedos tocam teus lábios
em míticas e enigmáticas melodias
como se fosse um concerto de harpas
em que o maestro da batuta
conduz a sinfonia na avidez do teu olhar
e ouvem-se sons ancestrais de violino
vibrando com o impacto da luz
dos teus olhos nos meus.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

a terra húmida caminhei com os pés atados

























na terra húmida caminhei com os pés atados
no monte, entre estevas, me perdi
não tive medo do dia nem da noite
e senti a chuva de um poema faminto
ao longe escutei a coruja e um rato
lutando não sei que lua ou sol do amanhecer
dei a mão a uma estrela escondida entre as nuvens
e adormeci num sono tranquilo
e o medo de dormir vigilante saiu de mim.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

falei com o vento





























falei com o vento
para me levar num sopro,
mas meus versos estão pisados
e no chão da terra ficam atolados
…eu não fui com o vento

aqui fiquei!

troquei as manhãs
nascidas rente à raiz
por um sonho escuro e infeliz
adestrado pela distância do momento
… eu não voei com o vento

aqui fiquei!

não vi o sol no horizonte
a despenhar-se nos campos
fiquei com asparas espigas de trigo vazias
a arder na tempestade de loucas utopias
… o vento ateou mais o fogo

aqui fiquei!

e queimaram-se as palavras
que falavam com o vento
entre os detritos do centeio e um grito
encarniçado na baba da destruição.
fiquei devoto a uma ilusão…
… o vento não me respondeu

e eu daqui sai…
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