«que sentir é este sentir dos meus sentidos a sentir?»

«os sentidos são a engenharia da arte e o sentimento o projeto»

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

PIANO EM TARDE DE CHUVA




























Acabo por negar
teu rosto
e neste encontro
recolho teu corpo
nesta tarde de chuva

Serpentes loucas
filhas das gotas de água
comungam a minha sede
e a tua nudez me espera
na janela do provir

O meu pensamento
agitado de silêncio
ouve ao longe
as notas do piano
de Pour Elise

Mas, os meus olhos!...
Os meus olhos bebem
o mistério da ilusão
Um cálice sussurrante
e quente de solidão
a penetrar pela garganta
na voz da razão

A chuva que cai
vai escorrendo pela janela
e vejo teu rosto nela
tentando limpar
meus pecados.

E o piano toca...
e nunca mais acaba…

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

LEMBRA




























Lembra-me um dia
sem que eu te peça
do verso esquecido
que no teu corpo ficou
na noite impiedosa
de tanto amor e fulgor
Certeza e paixão fechadas
na palma da mão
Não estendas então
essa memória de palavras
onde vindas do nada
cada se transformou
cuidadosamente lapidada
pelos corpos em verso nu
banidas de qualquer tema
onde coube a vida inteira
outra vida de outra maneira
apenas sentida num poema,
escrito nesta lembrança sem lema.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

OLHAR SOBRE SEU CORPO


























Aquele olhar no seu corpo à janela
Seus cabelos sobre os ombros nus
Explodiu tantas sensações à meia-luz
Oh como eu a quisera sedutora e bela!

Que vontade imensa de ser só dela
Qual Afrodite que a todos seduz
Meus olhos foram chusma de zulus
Em corte subtil de alguém que apela

Oh como eu vi palpitantes seus seios
Que suas mãos escondiam bem cheios
Dentro do soutien preto a colar ao peito

Em castidade ardente velei outro mundo
Onde senti meu membro erecto lá fundo
Penetrando seu sexo deitado no seu leito.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

ORA RESPIRO ORA SUFOCO
























Tão perto sinto
a vida como a morte.
Estremece o meu ser
de puro prazer
por tanto viver
ou por estar a morrer?
Ténue respiração
indispensável à vida,
ténue sopro alveolar
que não supera a morte.
Estado de vigila
para os sentidos alertar.

Coma vegetativo
em sono crepuscular.
Pássaro frágil surpreendido
hesitante entre a vida e a morte.
Lenta ponta de lança lançada
pelo passado de bruma passada
que continua equilibrada
entre o vigor e o terror.
Duelo aceso
entre o eclipse de fogo
e a sombra da tenebrosidade.
Curva seminal
que gera vida baseada
no corpo, no rosto,
nos lábios, língua,
seios e sexo
e nos limites da imaginação.
Veneno infernal
que rasga a alma
desventra os olhos
líquidos escorrendo do silêncio
a penumbra de um talvez…
E por ai
ora respiro ora sufoco.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

...MAS OS TEUS CABELOS!




























Lembra quando
tocares os lábios de outro
esses teus lábios eu beijei
Quando dizeres amo-te
esse teu coração eu amei
Quando te deres ao prazer
teu corpo eu já o provei;
...Mas os teus cabelos!
- os teus cabelos -
Ainda meus dedos perdidos estão
em silêncios que só eu sei,
pousados num amor de segredos
Toca-me o amor sem uma palavra
apenas o tacto do desamparo
de uma alma que te manda recado:
- foi assim, e a ser assim:
há uma parte de mim dentro de ti
detida por entre os teus cabelos
um rumor que nunca deixarás de sentir
o som da erva na suavidade dos meus gestos.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

ALEGRE FUNERAL




























Este silêncio triste e imundo
De quando tu me deixastes
Apagou os sonhos de um mundo
Com mágoas de uns olhos tristes

Ah, esses não levastes, eram o fundo
Do mar azul onde tu não existes
Onde navega só um amor profundo
Com limos de várias cores de estirpes.

Sonhar a vida e acordar a morte
Traz-me a saudade de sentir a sorte
Da sombra profusa deste desespero

Vai, sai agora e não venhas mais
Já ao longe se ouvem meus ais
Do alegre funeral deste enterro.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A LÁGRIMA




























Tinha o sentido de tudo
lembro apenas de olhar em redor
e sentir uma lágrima vinda de ti
terá valido a pena?
Bastaria estender minhas mãos
sentir o seu peso redondo
a sua superfície transparente
e pousá-la dentro da minha boca
e apreciar o seu gosto salgado
a absorver debaixo da língua
até penetrar bem dentro da alma
e rapidamente sentir o seu efeito
de nevoeiro denso informe e espesso
apreensível com a densidade opaca
do aluir vertiginoso da razão
tomado numa só porção
e na palma da minha mão,
permanecerá eternamente.

sábado, 6 de dezembro de 2008

ANSEIO




























Aquele dia em que partiste
e, quando foste,
toda a noite eu velei,
mas não te vi partir
- nem tu me viste.
Eu fiquei sozinho
a vigiar a estrada, o mar
olhos perdidos no destino
que trilhando seguiste
uma ausência longa no ar!
Partiste.
Meus olhos cheios
de longa espera
pudessem algemar-te os passos
à voz distante do meu anseio,
como ao velho muro
do teu sonho antigo
uma saudade minha se prendeu
qual folha de hera! …

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O MEU PROBLEMA




























Neste momento
guardo a gravidade
dos teus negros olhos
e as arestas do teu cabelo
Curvo-me perante um corpo
moldado e rectilíneo
de ângulos impróprios
à matemática exacta.
Sobrepõem-se as tuas pernas
ao triângulo da tua volúpia
e os bicos firme dos teus seios,
na blusa de alças molhada,
tentam arranjar soluções
para abrir mais uns botões.
Os pés nas tuas sandálias
deslizam nas bases dos teus ombros
vincando o ventre com lisos planos
Peço-te, pára por aqui!
Não comprimas os lábios
para em compassos loucos
de círculos de língua
os tornar mais húmidos…
… E a tua alça decaiu mais um pouco
e já nada mais consigo decifrar…
Todos os teus pontos se unem
num só obra desenhada das mãos
de quem me fez sentir o calor
e o cheiro das linhas, das curvas
e ângulos da tua pele.
As perícias das tuas formas
baralham o meu saber das ciências
(terei que rever tudo outra vez).
Agora és um problema
que tanto me atrai
que jamais quero encontrar
qualquer solução.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

TOCA-ME




























Toca-me, bem leve
Com a tua pele.
Não me condenes
a olhar-te para sempre
sem poder sentir a tua nudez.
Quero apenas lembrar
agora e eternamente
este momento de perfume
em que abandonas
a roupa pelo chão
que piso em mar de flores.
Surpreende-me com o teu corpo
de sol ardente que vem
acudir o fogo de outro sol.
Deixa deslizar meus dedos
nos teus voluptuosos seios.
Não me deixes esperar mais,
os meus olhos já viram demais,
em cada dia que passa
há sempre um bater aflito
de um coração cansado
de olhar sem poder tocar.
Pousa as tuas mãos
num pousar que nada vê
nem nada mais ousa pedir
a não ser um breve tocar…

Eu juro, eu não queria
mais um dia de solidão
nos olhos que fecharam
e deixaram uma lágrima
em segredo fechada na mão.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

…E TU PASSASTE





















… E tu passaste
- um bom sonho que passa -
como ilusão doirada que esvoaça
bem dentro do peito,
onde não cabe um mar insatisfeito
de saudade do tempo que vivi
ao pé de ti.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

ONDE ME ENCONTRO!





















E o prazer a dor duma agonia...
A desfiar as horas do meu dia,
Como se o Paraíso fosse o Inferno,
E o prazer a dor duma agonia…

Deixo viver a vida que está morta,
Na transfusão do ser que não é nada,
Que eu vivo numa casa sem porta,
Caminho num deserto, sem morada...

E julgo que sou eu... E eu... pessoa
Que pensa ama e crê... sem caminhar
Na senda certa em que vive à toa...

O som e a sombra são o jovem e o velho,
Que se vestem de branco e de vermelho,
Onde me escondo para não me encontrar...

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

INTERROGAÇÃO DO DIA




























Distante de tudo
Sinto-me um simples pesquisador
de ódios seduzidos pelas distâncias
do homem neste pequeno espaço
onde todos temos que estar:
interrogo-me se já não esgotamos o amor.
O sentimento parece não ser capaz
de alegrar a almas dos poetas.
Nas veias deixou de correr o sangue
quente que devia aquecer o coração
resfria a garganta tornando asparas as palavras
que trazem a morte ao ouvido.

Quem ainda sente nestes lados
apenas suspeita de uma outra vontade
iluminada pelos olhos da saudade
onde passeiam gaivotas à beira mar

Aqui partiu a luz do dia:
só a noite trouxe este poema
a recordar a memória de um amor
que eu pensei que existia.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

ROSAS DO OUTONO























Invoco agora neste momento
o prazer rejeitado dos sentidos
vindos com as rosas do Outono,
onde ninguém ainda tocou
(amores virgens de outros tempos).
Cheios de néctar de nenúfares de amor
em breves possessões de desejo
que brotam o prazer em vícios
derramados nos cálices encobertos
nos Hipogeus dos egípcios!

…E são tão raros estes momentos
em que posso conhecer a suavidade
da nudez do corpo da mulher:
o vago sono das rosas do Outono

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

SAUDADES DE UM POEMA




























Nesta noite,
não tive saudades de um amor,
nem de amar a mulher com doces palavras
em beijos que serei incapaz de contar
na cama onde sempre cabe um grande amor.
Apenas quis o que não vi, nem escrevi
Apenas sonhei ter sentido o que quis ver
na voz que se calou no tempo,
como ave ferida em noite fria.
Deitado na folha branca deste papel
esperei o poema que há muito o sinto,
as palavras que me ajudassem a escreve-lo
capazes de iluminarem o meu sentimento
nada mais surgiu que palavras banais
que o dia a dia destes meus dias
me fornece em excessos repetidos,
tornando iguais a todos os demais.
Fiquei apenas com os meus gestos
tentando inventar um poema
ainda não escrito no interior do dia
o poema que devia ter sido,
ficou escondido sobre o fato de um homem,
um homem (a)normal que quer e não quer
este desencontro continuado,
cerrando com um beijo os lábios
que deixou na boca uma saudade,
com um olhar indiferente a tudo
no sonho impossível de ser poema.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

PERDI


Perdi o sono
e talvez a vida
por ti perdi
Perdi o sorriso
a fantasia
a vontade de ser
e talvez de ver
tudo o que perdi
Perdi as palavras
achei-as nas lágrimas
desfeitas em água
salgadas de mágoa
Por onde andei
Por onde ando
perdido
eu sei
Eu que perdi.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

RETRATO DE NU





























A nudez corre-me nas mãos
no estremecer da caneta,
chegando por todo lado
no branco da minha tela.
Contornos lineares fazem adivinhar
o fogo da carne da tarde quente
deste Verão escaldante.
O corpo refresca no quadro,
de contornos poucos
mas que chegam para as mãos
sentirem toda a sua nudez.
Encarna o amor na ponta dos dedos:
onda branca de espuma firme
(feita de pincel fino)
adivinha a musica que atravessa
a melodia das tintas para o pintor.
Um corpo a outro corpo
se mistura no atelier do retrato
e já não incarna o amor,
apenas os tons rosados,
amarelos e encarnados,
contra um chão da paixão,
onde o olhar gasto se liberta
na respiração de uma cereja
de vermelho vivo perdido no branco.
De novo encarnam lábios beijando
bocas em tão loucos desejos:
feitos de um beijo que não foi pintado.

© Jorge Oliveira
Publicado no RL em 05/08/2008
Código do texto: T1113987
RETRATO DE NU

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

FOGO NAS VEIAS




























Há rios nas tuas mãos
que desaguam no teu corpo ardente,
entre margens brancas de areia,
Peixes chegam pela manhã
em alvos de água transparente,
deixando reflectir teu corpo nu
no trigo verde que se desfaz nas ondas,
onde descansam sonhos dispersos
gozando do calor das planícies.
E os nossos corpos tocam-se
com o ar das águas e dos campos.
Não sei se és gente, corpo ou alma
Pouco me importa, neste instante,
o que afogueia as minhas veias…

© Jorge Oliveira
Publicado no RL em 05/08/2008
Código do texto: T1113984
FOGO NAS VEIAS

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

NATUREZA MORTA




























Repousam rosas vermelhas
colocadas na jarra sobre a mesa,
misturam as sombras das paredes
por fios de luz que reflectem das cortinas.
O calor lá fora esquece o fresco interior
e afasta o horizonte de silêncio.
Brilham ainda vivas, é belo vê-las…
Parecem encobrir a noite que vem
com mistérios de perfumes
querendo chamar por alguém:
como pássaros que cruzam o interior
daquela vida exposta ao encovo do mundo.
Simples sentidos vividos neste dia
gravados em sons de cores e harmonia
que leva toda a essência da vida
apenas num breve segundo.
As rosas brilham sobre a mesa
como se fossem letras para mim
Amanhã é outro dia e o seu brilho já não é assim,
tal como a tela da minha poesia.

© Jorge Oliveira
Publicado no RL em 04/08/2008
Código do texto: T1111887
NATUREZA MORTA

terça-feira, 12 de agosto de 2008

A CEGUEIRA DE DEUS!...






















O que poderá ver
quem um dia cegou?
Será o seu prazer
um indeterminável voo?

Eu, porém, cego não sou:
persegue-me uma luz,
como fosse uma cruz.

Será porque vejo
que tenho essa liberdade
de sentir esse desejo
de tal infelicidade?

Bem visto, eu vejo
a vida num ensejo,
vida que tanto aborrece
quem nesta vida padece
de tristeza mal merecida.

E porque vejo;
ficou-me na memória
aquele último beijo
dado sem qualquer glória
na face da criança sem sorte
que não teve o pão presente
no dia da sua morte
(essa criança também era gente).

DEUS, diz-me lá:
- AQUI ALGUÉM SENTE! SERÁ?
se NÃO, leva no vento
este estado descontente
do meu pensamento.
Faz-me ficar calado
ou traz-me o passado
de quem eu deixei matar.

Saberei o que digo?
Ou estarei só a falar comigo?
(Não Te tenho como inimigo).
Mas, porque existe este fim?
Tudo é contrário assim:
deixa-me morrer antes a mim.

Em Ti eu pus esperança,
mas no meu grito agora se descobre:
que perdi a confiança.
Faz de mim, rico, um pobre
e depois: agora sim,
faz-me o mesmo que à criança
dá-me idêntico fim
para eu acreditar em Ti.

Se Tu não és cego, Oh Deus!
Dá-me a sentir essa morte,
não leves a criança, mas eu…
para divisar essa fome forte.

Sou só um simples mortal,
não Te posso julgar afinal!…

© Jorge Oliveira
Publicado no RL em 04/08/2008
Código do texto: T1111858
CEGUEIRA DE DEUS!...

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

VOLTA ATÉ MIM






















Ando vagueando
em dormentes estados
de coma vegetal de sonhos
(fico inerte no sofá)
Se soubesses desta tristeza
se a pudesses sentir
voltavas até mim
num silêncio qualquer
só para me abraçar
Sentirias o meu corpo levitar
Entre uma qualquer palavra
(palavras que não esqueço)
vinda da tua voz de silêncio
que tanto me habituaste

Peço-te, volta até mim
Não venhas em corpo
nem tão pouco em alma
Volta na forma de ausência
em silhueta embaciada
no espelho da minha memoria
mesmo que uma lágrima de vidro
torne os meus olhos baços
mas que me faça sentir
as células dentro de mim

Vem, volta até mim
Deixa-me sentir teu corpo
em aceno ao vento
a despir-te por dentro
A desenhar teu rosto
com traços delineados
esboçando ruínas
dando forma real ao meu

Vem, vem com as andorinhas
de lugares distantes
pelas correntes de diamantes
que te conduzem até mim
com um outro qualquer fim...
Traz somente contigo o silêncio
Esse silêncio que me faz gritar
Amar! Amar!

© Jorge Oliveira
Publicado no RL em 19/05/2008
Código de texto: 996440
VOLTA ATÉ MIM

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

A CIDADE




















Madrugadas
de ruídos
dos movimentos
mecânicos
da cidade
trazem
vidas
entre silêncios
escorrendo pelas ruas
olhares discretos
cheiros
intensos
escondem segredos
de almas
perdidas
até ao cair da noite
com as luzes
da ribalta
entre momentos:
- quem fica
quem vai
quem está para vir…
A cidade não
morre
nem tão pouco
descansa
e
as almas?

© Jorge Oliveira

Publicado no RL em 30/07/2008
Código do texto: T1104548
A CIDADE

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

NOITE DE BEETHOVEN




























Chega, chega de sonhos e de tristeza.
Hoje há luar cá fora e uma musica no ar
que faz o meu coração ter a certeza
da verdade de te querer amar e amar…

Vem, chega-te a mim. Não digas nada
- nem sussurros, promessas ou segredos.
Deixa-te ficar neste momento sem fala
para ouvir as vozes dos teus silêncios.

Quero embriagar-me a beber a noite contigo.
Não temes que te deixe cá fora sozinha
Eu daqui não parto, não corro, nem me esquivo
só vou roubar à noite adornos para te fazer rainha.

Vem, vem sentir os prelúdios nocturnos
a vibrarem no vento transparente que vem
nos versos pressentidos, embora mudos,
dos acordes indefinidos de Beethoven.

© Jorge Oliveira
Publicado no RL em 04/08/2008
Código do texto: T1111858
NOITE DE BEETHOVEN

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

FLIRT COM PALAVRAS DESCONHECIDAS





























Elas vêm escondidas.
Não aparecem em meus versos:
envergonhadas e recolhidas
tentam esconder seus gestos.

Elas masturbam a minha caneta,
amam-se no meu papel branco,
deixam vestígios de sémen na silhueta
a fluir na forma do símbolo fálico.

Às vezes gritam, às vezes choram,
às vezes apenas sorriem por nada;
deitadas no leito de quem amam,
se unem a ser uma única amada.

Orgasmos e intensos gemidos:
vindos de sentimentos explosivos,
mas, no entanto, tão perdidos
em busca de alguns versos vivos.

Estas são as palavras e a sua mudez,
algo que meus sentidos não entendem,
mesmo mostrando a sua nudez,
eu não as reconheço nem uma só vez.

© Jorge Oliveira
Publicado no RL em 30/07/2008
Código do texto: T1104550
FLIRT COM PALAVRAS DESCONHECIDAS

terça-feira, 5 de agosto de 2008

QUERIA...






























Queria rasgar a venda dos meus olhos
e abri-los a toda a luz,
para passar incólume os escolhos
que travam os meus passos indecisos…

Queria ver mais o mundo que reluz
para além de mim, em relâmpagos incisos,
de miragem sem imagem e sem cor…

Queria não ser para ver melhor
um mundo transcendente em que toda a gente
sente que há mais vibrações e mais calor;

Um mundo sem um ponto tangencial
impenetrável à sorte universal,
um mundo sem crescente e sem vasante…

Eu queria (pobre de mim…) a angustiante
alucinação vibrante da transcendência.
Em que existir fosse a aparência
de ter os pés firmados na existência
dum solo fugitivo e escaldante…

Eu queria, assim vencido, falar alto,
gritar, sem ser ouvido por ninguém,
vencer esta barreira incerta do além
que me atormenta e morre em sobressalto!

Eu queria a palavra que dissesse
tudo o que sou… e o mundo… e os outros e tudo…
verbo que fez o todo o me fez mudo
que nada sei dizer por muito que escrevesse…

© Jorge Oliveira
Publicado R. Letras em 31/08/2008
Códido de texto: T1106791

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

POEMA QUE NÂO SE VÊ




























Anda traiçoeira a poesia
que a mim chega e arredia
da vida que paço e meço…
Confesso que não consigo,
por mais que sinta o desejo,
por mais que fale comigo,
eu sinto-a, mas não a escrevo.

Ao olhar a folha branca,
meus olhos lêem o nada
na mística escrita que sangra
em tom de mudez embalada.
Tropeçando na sombra e na luz
que ainda nunca transpus.

E os meus dedos me doem
de tanto escrever a minha alma
nas folhas que no incerto caem,
na vontade que não se acalma.

Ficam a escorrer segredos,
- Serão fluidos de medos,
da flácida tinta mole?
Que não se move, nem se lê
nas infinitas palavras em rol
do poema que não se vê?

Por tempo ou por medo…
um dia, sem poesia, já passou,
um novo está para vir
à espera de um novo dia
que ainda não chegou
(nem se sabe se há-de surgir!)

© Jorge Oliveira
Publlicado np R.Letras em 31/07/2008
Código de texto: T1106481
POEMA QUE NÂO SE VÊ

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

...OUTRA MANHÃ CHAMANDO POR MIM!






















Esconde-se o meu silêncio
nesta manhã clara.
Enfeitam-se os beijos
(escorrendo no chão)
para os meus desejos.
Escombros erguem-se
em volúpias de segredos:
elevando jardins de cetim
que crescem entre lençóis de medos.
Ascende-se o som dos tambores,
a uma qualquer vida inacabada.
- Já há muito se ouvem rumores
de uma serpente encantada
que degluta todos os desejos,
numa qualquer madrugada.

© Jorge Oliveira
Publicado no R. Letras em 30/07/2008
Código de texto: T1104540
"...OUTRA MANHÂ CHAMANDO POR MIM!"

quinta-feira, 31 de julho de 2008

CÁLIDO VERÂO





















Tarde quente.
- Desejo ardente.
Lábios vermelhos,
em beijos perdidos,
por entre as planícies.

Amor que se derrete
por entre o mel
escorrendo no teu ventre,
de morango encarnado,
no teu umbigo untado.

Volúpia latejante
em constante frenesim,
agora sim, vem até mim:
quero-te assim
mulher de mitos
fazendo ciúmes ao infinito.

Uivos do sol,
que chamam a noite,
a esconder teus seios,
- esperando as mãos
frescas de desejos.

Perfilam beijos
e sexo de amante,
nesta tarde quente
de cálido Verão.

© Jorge Oliveira
Publicado no R.Letras em 02/07/2008
Código de texto: T1061452
CÁLIDO VERÂO

quarta-feira, 30 de julho de 2008

OLHAR SEM ENGANO






















Um dia o meu olhar
pousou nos teus olhos.
Ali ficou demoradamente,
como uma ave leve e suave
que distante voou,
ferida pelo pleno azul
do indefinido céu transparente.
Um ou outro traço ficou
em forma de vaga imagem
desenhada pelo teu olhar.
O meu sentir foi tanto,
perante tal encanto,
que esqueci a palavra engano.

© Jorge Oliveira
Publicado no R.Letras em 02/07/2008
Código de texto: T1061443
OLHAR SEM ENGANO

segunda-feira, 28 de julho de 2008

TRIO DE PALAVRAS





















Adormeci num trio de palavras,
que queria escrever,
e agora, o que vou dizer?
Talvez pensasse que o sonho,
num frémito despertar,
me trouxesse a mística
das três palavras que perdi.
Como é fértil a inspiração,
naquele estado paradoxal,
dedilhada por palavras
em imagens de magia.
Entre luz e sombras claras,
esboroaram-se no escuro fundo,
entrando para um outro mundo.
Senti que formaram o caos,
assim como faziam a harmonia
(será a Santíssima Trindade?).
Serão três palavras em gritos altos,
ou puros silêncios da vida?
Nunca o chegarei a saber.
Mesmo que um dia me surjam,
vou de novo volta-las a perder,
e assim, onde começa
e acaba a minha poesia?

© Jorge Oliveira
Publicado no R. Letras em 25/09/2008
Código de texto: T1050469
TRIO DE PALAVRAS

domingo, 27 de julho de 2008

A SÓS


Como me sinto bem
neste momento, sem receio.
Aqui neste instante, a sós,
abandono todo meu anseio.
Posso, em tom alto de voz,
quebrar o meu silêncio,
sem que alguém ouça as palavras
de todas as minhas mágoas.
Não endoideço - nem me padeço.
As incertezas são certezas.
Tudo posso esquecer,
já que tudo o que é tem que ser,
entre os gritos deste lugar
(onde ninguém pode responder).
Deixo as palavras no ar
entoando uma canção
ao som das sinfonias de Bach,
em acordes fugidos do coração,
a vibrarem na direcção
de um mundo sem destino.
Não sei onde é - nem o conheço.
Que importa, seja a onde for.
Hoje sou tal como sou
- não chamem por mim
(eu daqui não vou),
aqui vim, aqui fiquei e estou.

© Jorge Oliveira
Publicado no R.Letras em 23/06/2008
Código de texto: T1048076
A SÓS

quarta-feira, 18 de junho de 2008

SERÁ ESTE SENTIMENTO O MEU MORRER?




























Não sei se estou acordado
ou se durmo por ai em qualquer lado.
Será que o que escrevo é sonho
ou é um estado de vigília assustado?
Tão pouco sei se quero saber tudo isto,
se acordado ou a dormir eu existo!

Não conheço este sentimento,
nunca o vi antes, nem pedi para vir.
Mas já era tarde, quando percebi,
que ele já tinha conquistado a porta
que eu pensei ser inviolável
mas, sem saber, havia por ai outra chave,
tão simplesmente, capaz de a abrir.
E assim entrou em mim, enamorou-se
com uma qualquer lembrança de criança,
ali vive, ali mora e encontrou novo lar.
Canso-me com esta confusão instalada
de sentir cada célula desarrumada.
Sinto-me exausto de tanto limpar
citoplasmas cheios de migalhas de palavras
que não foram ditas por ele ou por mim.
Sem conseguirem sair dai, intoxicam o corpo
e em novelo de fio de veneno prendem a alma.

Como não bastasse, a qualquer hora do dia,
quando não se lava na alegria do tom calado
da água que envolve toda a minha aura,
acomoda-se no agasalho do vulto vermelho
do lençol de sangue das minhas veias
despidas de vida, cálidas de tristeza.

E eu, desposado de todo eterno haurido
não consigo distinguir o sujo do branco.
lanço-me no sonho sem querer acordar.
Será este sentimento o meu morrer?
Se o for, para ele também deve ser.
Pouco importa, nunca o chegarei a saber,
apenas sei que guardo uma lágrima,
escondida em algum lugar em mim,
que nunca irá cair por ele, ou por ti,
porque morrendo eu volto a viver.

Publicado no R.Letras em 19/05/2008
Código de texto: T996443
SERÁ ESTE SENTIMENTO O MEU MORRER?

terça-feira, 17 de junho de 2008

(100)PALAVRAS DE MIM





























Onde poderei começar,
meu sentimento contar?
Que palavras vos direi?
Escreve-las agora não sei.

O sentido das palavras
de mim eu me desavim,
não as deixo sair das larvas,
podendo me vingar assim.

Queixar-me agora não sei,
seria tudo mal contado
- tudo o que antes pensei,
no silêncio foi levado.

É certo este meu fim,
a parte alguma irei,
a caneta foge de mim.
Onde será que errei?

Não sei o quê - ou quem é
causador de tudo isto,
talvez a minha falta de fé
nas palavras que não avisto.

Não ficou palavra alguma
desta vez para escrever
irei acabar só com uma,
não se pode ler – nem ver.

© Jorge Oliveira
Publicado no R. Letras em 17/06/2008
Código de tesxto: T1038807
(100)PALAVRAS DE MIM

segunda-feira, 16 de junho de 2008

UMA SÓ VONTADE


























É certa esta certeza,
deste meu sangue em pensamento,
a correr nas horas da tristeza
em todos dias sentida,
sem que eu percebesse o momento
da lágrima que foi perdida.

As horas que não chorei
(um homem também chora!)
presas nos dias que não amei,
escondem-se entre a alma agora,
querendo guardar todo o mal
neste lugar sombrio e saudoso,
a esconder esta dor principal
deste sentimento tão temeroso,
à espera de um qualquer final
para a vida de um mentiroso.

O tempo muda, por ventura,
bem sei, pelo passar dos dias;
mas, para minha grande desventura,
pede-me em troca as minhas alegrias
e eu não sei, se quero, se me atrevo
a deixar as palavras que escrevo
(é um engano este descanso),
este beber de eterno vício
engolindo lágrimas tão manso.
Será isto um sacrifício,
que me traz algum benefício?

A vida não muda, mas vêm os anos,
e eu tenho por esta certeza
a natureza destes próprios danos
feita de tantos pecados
(ainda que nunca tivesse pecado
a quem amo ou tivesse amado).
Quem diz que chorar descansa?
Se quanto mais lágrimas choramos,
tanto mais lágrimas logramos!
Quero ficar só com esta lembrança
da lágrima que o vento levou
- que traz de volta a esperança
nas palavras que me deixou
presas numa só vontade,
escritas na palavra saudade.

© Jorge Oliveira
Publicado no R. letras em 16/06/2008
Código de Texto: T1036655
UMA SÓ VONTADE

terça-feira, 10 de junho de 2008

UHF

MATAS-ME COM O TEU OLHAR

Noites frias de marfim
Noites frias ao luar
A conversa já no fim
Matas-me com o teu olhar.
Matas-me com o teu olhar
Matas-me com o teu olhar.

Sabes que esta vida corre
Como a sombra pelo chão
Nada fica, tudo foge
Ouve a voz do coração.

Matas-me com o teu olhar
Matas-me com o teu olhar.

São como cubos de gelo
Que eu sinto ao tocar
As palavras têm medo
Matas-me com o teu olhar.

Matas-me com o teu olhar
Matas-me com o teu olhar.

Com o teu olhar.

Matas-me com o teu olhar
Matas-me com o teu olhar.
Matas-me com o teu olhar
Matas-me com o teu olhar.
Com o teu olhar.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

UHF

AO FIM DE TANTO TEMPO

Caem chuvisco na tarde
Na esplanada da falésia
Enquanto o horizonte arde
Um barco ao largo navega

Uma vontade de ti
Que me aquece por dentro
Guardo a voz que ouvi
Ao fim de tanto tempo

O meu desejo nas mãos
De voltar a estar contigo
Olhar nos olhos a paixão
Tanto tempo perdido

Uma vontade de ti
Que me aquece por dentro
Guardo a voz que ouvi
Ao fim de tanto tempo

UHF

DANÇA COMIGO

O sol a pôr-se
O céu nas águas
Os olhos parados
Na tarde calma

Será por ti
Que guardo o tempo
Neste segredo
Luz e silêncio

Dança comigo
A primeira vez
Ficarei contigo
Até o sol nascer

Quero-te tanto
Por ti esperei
Por este dia
Mil anos passei

Tu és o anjo
Que me protege
Do grande amor
Que a vida me deve

Dança comigo
A primeira vez
Ficarei contigo
Até o sol nascer

Quero-te tanto
Por ti esperei
Por este dia
Mil anos passei

Dança comigo
A primeira vez
Ficarei contigo
Até o sol nascer

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...