«que sentir é este sentir dos meus sentidos a sentir?»

«os sentidos são a engenharia da arte e o sentimento o projeto»

sábado, 10 de outubro de 2009

esquece-me




























esquece-me
nesta manhã de sol
em que o silêncio acolhe
o que não pode alcançar

esquece este desejo insano
da nudez do teu corpo
deste Outono
esquece os meus sonhos
para que eles não envelheçam
com o meu corpo
esquece este segredo guardado
no enigma do silêncio dos segredos

são talvez os pássaros
os pássaros
que me trazem este fim
este último perfume deste dia
em que eu sei que tu sabes
que eu não sou eu
mas apenas um reflexo
de um instante de amor
reflectido no abismo do silêncio
da solidão destas palavras.

esquece-me

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

juízo final




























é iminente este desabar de sentimentos
palavras que ainda não são palavras
que não se separam do mundo imundo
do corpo preso nas sombras dos navios

este estar é ser num repouso irrequieto
num vazio esculpido na orla da vida
tudo está imerso nesta inquietação
na palavra dura e crua desta humanização

cai a última inocência perdida
e num templo ajuízam-se os culpados
lúcifer desejoso de queimar o perdão
transfigura o sujo do mundo na origem
nos presságios exilados na ferrugem
a lavar as mãos na árida avidez da consciência

se uma palavra ao menos pudesse descobrir
a transparência nítida das coisas
uma vontade de salvar esta desordem
sossego que nenhum deus se atreve a quebrar

nada mais sei dizer deste descontentamento
o mundo ainda não julga as palavras por igual
até ao dia em que as vai escrever no juízo final

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

instante




























tão breve este momento
que já se perdeu no começo
um excesso de ter o instante
a terminar este sonho no princípio

...

compõe-se o acorde no instrumento
só a cor da musica fica

terça-feira, 6 de outubro de 2009

silêncios




























a lua olha sobre mim
um olhar que ninguém vê
a cintilar na água dos meus olhos

é um sonho que cai levemente
no mar negro da minha íris
onde palpitam ondas
ao ritmo tranquilo do meu coração

a noite faz descair
lentamente o teu rosto
para que eu beije o teu segredo
na tranquilidade que seduz os meus sentidos

dócil crepúsculo nupcial
na sede lisa da pupila
entre o lábio da lua e o meu
o sonho do mundo é uma palavra:

silêncios

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

se puderes aceitar este azul




























se puderes aceitar este azul
na cumplicidade com o mar
com o teu excesso de corpo

na nudez selvagem do teu busto
fúlgido de mulher adormecida
num mar de espuma
num fogo que arde a água
no histerismo dos desejos
voluptuoso sentir entre amantes

se puderes aceitar este azul
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