«que sentir é este sentir dos meus sentidos a sentir?»

«os sentidos são a engenharia da arte e o sentimento o projeto»

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

fecha os olhos e esquece




























fecha os olhos
e esquece
que eu já te vi chorar

o meu olhar
acaricia as tuas lágrimas
guardadas dentro do baú
do teu último sorriso

o outono cala-se.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

noite após noite

Se te gerei não sei, nem sei se vieste de mim, nem tão pouco se te quero assim, só sei que perdes a figura do dia quanto te enlaço. Inquieta-me não saber bem do que falo, se te imagino ou apenas quero falar de mim.

Perdida em ciúmes, deixaste o dia não amar mais o Sol, essa luz que tudo ilumina. E tudo apenas porque tu me amas mais; tomas o meu corpo e alma e dá-lhes vida na forma de estátua inquieta num obscuro fim.

As cores que o Sol espalhou despegam-se para se agarrar a mim, apago-as e refaço-as em outras cores mais intensas com que pinto, em tons claros, os afogos de gente que se despe da claridade bordada em raios de oiro para vestir o escuro nu.

Um mundo que existiu outro que está para vir, definir-te não sei, entender-te eu queria, mas que posso eu fazer se não consigo saber o que acaba e o que principia? Serás imagem do pecado como um chão rasgado? Pedra fria de calçada que se aconchega na noite com o pó da melancolia, trazendo a saudade na primeira estrela do céu que brilha? Ou serás apenas mera comoção de pegadas asparas do dia? Amor, sentimento, folha fugidia dos meus pés, que caminham num bosque adormecido de pobres sem manto e de cegos que só vêem a luz da noite nas sombras claras (feitas escuras) de luar que encobre com véu a palidez dos seres!

Como te queria entender escuridão! Esse sustento da vida que se esconde na noite nos candeeiros que cantam melodias de jasmim. Apagados da força do Sol adivinham os instintos dos desejos de corpos nus triunfantes às almas suadas: presas no escuro, em tépidos sonos de dança nocturna, onde o sangue que se agita e ferve faz criar os espinhos onde nascem as rosas.

Noites inteiras fico sem saber, oiço silêncios em gritos de espasmos, cerrados em limites ilimitados entre (des)encontros de paixões. Esta é mais outra noite. E noite após noite, vagueio na escuridão da vida e, no seio de todos os seres deste universo, passo a vida a estudar os seus gestos. Tudo o que encontro é uma conturbada imagem sem destino… Apenas sei que os meus olhos vêem mais do que deviam, mais do que de dia e acabo por saber que não sei deste tempo a que me rendo a ver para não me ver. E cego só consigo entender as imagens na escuridão da noite. Serei eu ou apenas ela?

domingo, 13 de setembro de 2009

será um sinal de ti?




























apenas sinto a palavra escrita
quente húmida
vinda de ti
beijo o teu poema
na exuberante
vibração de cada fonema
tacteio teu jeito sedutor
em murmúrio do gemido
ao espasmo da erecção
do corpo nu das palavras
abraço aperto
na verbosidade do teu ser
a virgula a frase
invade o texto
e se entrega ao orgasmo

a folha molhada
passa pelos lábios
o sémen goteja o branco
as letras caem e o sexo arde

o poema já não existe
apenas a saliva que lambe
o sonho rasgado
bordando ao longe a lua
que embate contra o meu peito
será um sinal de ti?
é forte este sentir
(a lua é agressivamente bela!)

à noite o céu vai estar encoberto
com teu corpo nu todo descoberto.
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