«que sentir é este sentir dos meus sentidos a sentir?»

«os sentidos são a engenharia da arte e o sentimento o projeto»

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Adagio e Allegretto




























pára essa nota da viola

acaba com o som do romance
de Andrés Segovia
atira fora, num só lance
o vermelho desse véu com vida
que fere os meus sentidos
em todos os tons da melodia

e reflectem nos meus tecidos
a essência pura do teu corpo
em perfume que faz louco
este compasso composto

e para ti é tão pouco
o pouco que basta para ter
apenas o som de um acorde
sobindo em tempo para ritmo ser…

tom e silêncio iguais num tempo
energético, brilhante, ardente e meigo
em andamento Adagio e Allegretto
pára essa nota de viola
(meu corpo assim a ti se cola)

este sentir




























soubesse eu de ti
do vermelho vivo dos teus lábios
pudesse eu olhar o teu corpo
vestido de seda transparente
contornando todas as formas
nuas da tua carne
conseguisse eu despir-te
com os meus sentidos
na penumbra das emoções
a ser passagem na distancia
que excede estas condições
além dos desejos imaginados

este sentir pode ser o avesso
do regredir no mundo das ilusões

sábado, 12 de dezembro de 2009

adormeço o silêncio




























adormeço o silêncio
para acordar em outro tempo

levo comigo este sentimento
que não consigo entender

talvez na ausência nasça o pensamento
capaz de explicar este momento

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

talvez não seja quem sou





























talvez não seja
quem sou
quando contigo estou
talvez seja mera ilusão
de um desejo
que tu e eu não
podemos dizer não
não ao peso do sonho
de irreais momentos

talvez não seja de ninguém
a chegada destes tempos
esta distância da espera
talvez nos encontramos tarde
ou quem sabe cedo de mais
as horas não chegam
mas os dias acabam

chora os sentidos
aqueles que eu sinto
os que foram por nós vividos

a vida saiu de novo cá para fora
neste mundo de onde tu e eu vim
densa verdade em ti e em mim

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

natal sem destino























desperto em mim
esta sensação
de andar por ai
no meio da multidão

entrego o meu corpo
aos empurrões
de um e de outro
em breves distracções

sinto as luzes lá fora
lembro-me que é natal
é assim que se vive agora
este tempo tão mal

lojas enchem-se de gentes
para comprar contradições
felizes presentes incoerentes
com os seus tristes corações

e eu por aqui caminho
sem nunca conseguir
(bem tento, mas não adivinho)
o que está esta gente a seguir

neste tempo sem destino
o meu coração não aparece
dou um sorriso ao um menino
e a minha alma aquece…

domingo, 6 de dezembro de 2009

palavra roubada

























encontrei uma palavra
e vendia
mas essa palavra não era minha
foi roubada

de novo veio outra palavra
hesitei!...

será que sou poeta?
ou vendedor de palavras
roubadas?

sábado, 5 de dezembro de 2009

esquecimento




























após este silêncio
absoluto
bastaria uma palavra
a definir este momento

esquecimento

quero esquecer
esta tristeza
este sofrimento

esquecer quem sou
mais do que tudo
esquecer quem és

essa tua tristeza
esse teu sofrimento

anda, vem comigo
eu levo-te
para o mundo do

esquecimento

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

tanto engano

tanto me engano
naquilo que oiço
tudo o que dizem
o que amam e falam

tanto me engano
naquilo que vejo
tudo o que sinto
o longe e o perto

tanto engano de tanto
é este meu desencanto

a ouvir
a ver
eu só quero esquecer
é todo o tanto
que não me engano

domingo, 29 de novembro de 2009

não sei se é mulher ou poema




















sinto um novo corpo
não sei se é mulher ou poema
semente plantada no meu sangue
renasce num vento quente do meu rosto
no suor do sol que a língua lambe

será um corpo certamente
um poema de palavras virgens
mulher ou poema presídio ardente
que retoma todas as vidas às origens

porque a mulher e o poema são ainda
corpos e versos para descobrir

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

deixa-me olhar esses teus olhos




















recusa-me o teu corpo
rejeita o meu desejo por ti
nega o prazer de te ter

não me concedas tudo isto
e muito mais ainda

mas nunca me tires o momento
em que me deixas olhar
o fitar dos teus olhos
por breves instantes

teus olhos me dizem tanto

tão imenso este sentimento
olhar intenso
mais do que azul do horizonte
que contemplo na praia
em tarde de verão
o imenso mar e excessivo céu
que não consigo decifrar

deixa-me olhar esses olhos teus
e fazer um céu e um mar com os meus


quinta-feira, 19 de novembro de 2009

faz de mim um homem louco






















dá-me o teu corpo
entregue aos sentidos
deixa-me ser um leve sopro
nos teus seios pervertidos
um amante descontrolado
em anseio no prazer unido

dá-mo assim calado
aconchega essa nudez
ao elucido gemido
da minha insana insensatez

ternura faminta indiferente
à alma vertida em pudor
que se despe indecentemente
aos sinais lúbricos do calor

como é carente
este sentimento insaciável
intensos segredos da mente
de extrema violência incansável
grito e outro grito vibrante
tomam o teu corpo violável
é neste instante inconstante
em que eu peço o teu corpo

só por pouco, muito pouco,
faz de mim um homem louco

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

demasiadas palavras
























demasiadas palavras
surgem no poema
demasiado sentimento
que incinera a alma

tão demasiado este livro
ainda não começado
folhas e folhas de palavras
já lidas e ainda não escritas

é demais esta voz que fala
que extrai todos os sentidos
e se arrasta nos olhos cansados
da leitura inexplorada do nada

feroz é o fogo, o sangue que corre
nas linhas do papel branco
esperando um sinal da vida
ou um pronuncio da morte…

… é tão simples este viver
e são tão demasiadas as palavras
será que o silêncio vem ao morrer?

terça-feira, 17 de novembro de 2009

dentro de casa




























chego à noite
e tropeço nos corpos da rua
peço licença para entrar em casa
tento esquecer o que me lembro
e lembrar do que não sei

abro a porta e existe o momento
que expulsa a memória
dos braços no ar que não consegui
salvar no mar lavrado pelas palavras
deixados lá fora no inferno real

eu entro com a improvável certeza
do abandono dos fantasmas de dia
branca toalha que me limpa o corpo
para não me confundir com o de outro

reconheço pouco a pouco os meus dedos
os meus braços que se abrem como asas
na cor incerta do crepúsculo fosco da luz
como cinza que cai na falsa linguagem
pintada nas paredes das ruas de fora

A cal ferve agora dentro de casa
mesmo que não me reconheça
reprimo a imagem do meu reflexo
onde há-de guardar o não sei quê
de um corpo no exterior em falta

pouco importa o significado desta alma
letal lá fora com o som da palavra
mas viva em silêncio dentro de casa

vemo-nos de novo por ai



























este silêncio inquieto
confundi-me o sonho
a vida pertence aos náufragos
da terra, perdidos no sono
no frágil azul do dia

basta-me este leve sentimento
dos meus místicos sentidos
qual insuportável peso
da perda de um amor ferido

foge pássaro mutilado
abana as asas e voa
abandona os meus dedos
não te despeças de mim

vemo-nos de novo por ai
em outro qualquer fim

domingo, 15 de novembro de 2009

roda da vida




























é um corpo
a arder
em palavra
com ele
a morte de
risos e lágrimas
sentidos vividos
na incerta ilusão
na sombra da noite
à beira de ser dia

és tu que vens
e que vais
neste rodopiante
estontear
da roda da vida

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

entre palavras




























desejo
ardente
pulsante
momento
breve
instante.
cupido
atinge
paixão.
eros
venera
corpo
rendido
cansado
faminto.
ávidas
mãos
tocam
seios.
corpo
escondido
entre
palavras

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

peco




















peco por te olhar
peco sempre em cada dia

no pecado dos teus olhos
peco tanto por te desejar

mas tu pecas muito mais ainda
pecas por me provocar

terça-feira, 10 de novembro de 2009

bebe um copo comigo




























bebe um copo comigo
na moldura do meu quarto
inquieta-me o sono
a manhã ainda espera
longe está o sonho

neste exíguo lugar
há um copo teu e outro meu
brindemos à solidão amorfa
de este quase estar
aqui contigo a brindar
vitima de mais um dia
perdido em outro lugar…

domingo, 8 de novembro de 2009

apetece-me






















apetece-me
tocar teus cabelos
olhar teus olhos
sentir as tuas mãos
entre as minhas
no teu corpo e seios

apetece-me
tocar o que não sinto
sentir o que não toco
neste azul entre os dedos

sábado, 7 de novembro de 2009

inventa-me com os teus dedos




























inventa-me com os teus dedos
dá-me todos os teus sentidos
descreve-me nos gritos
de teus ardentes gemidos

entrega-me apenas o teu corpo
deixa a tua alma para outro
quero-te sem as regras formais
(mesmo que seja por pouco)
quero-te a sós, a ouvir teus ais

deixa que as tuas mãos moldem as palavras
escondidas no corpo que nunca as diz

fundi-te a mim no instinto da sedução
da avidez da carne faminta de tesão
ou castra-me com este segredo
inesgotavelmente carente pelo medo

inventa-me com os teus dedos
mas não ouses me dar um sexo
o suave toque de tuas mãos sem nexo
podem fazer vibrar todo o corpo
(apanharás os cacos por ai no chão)

Como é grande este desejo em mim
e eu não lhe sei por um fim…

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

simplesmente o mundo respira




























dispo a sombra do meu sentir
semeio na terra poemas inventados
sem as raízes das palavras
desprendem-se todos os sonhos

não sei que poemas são estes:

simplesmente o mundo respira
para além do meu silêncio
e tudo cabe dentro deste desejo

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

o meu sono azul



















para quê esta inquietação
quando me deito na areia
à beira mar com a lua
se me aconchegam as estrelas
e na água flutua o beijo
que vai aquecer o horizonte?

o meu sono azul acorda sempre
no fundo branco do mar

terça-feira, 3 de novembro de 2009

nos teus olhos nascem gaivotas à beira mar





















encontro um lugar no céu
que aquece meu corpo na terra
feito das saudades dos passos de verão
sob esta estranha leveza do frio de outono
decomponho o silêncio do teu olhar:

nos teus olhos nascem gaivotas à beira mar

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

foi tão breve o momento




















foi tão breve o momento
em que gritei o vazio
no reencontro com a vida
tão irreal este delírio
devaneio dos sentidos
neste ritmo certo:

a fragilidade do ser
estilhaçado ao vento

a existência sorriu
na sombra colorida!

não me digas adeus




























não me digas adeus
deixa aberta essa porta branca
dá-me ao menos a esperança
de um dia te poder encontrar
mesmo que em outra vida e lugar
(não me deixes com esta ânsia)
quem sabe se quem espera alcança!

guardo para sempre comigo
uma leve flor para te dar

domingo, 1 de novembro de 2009

não me olhes assim























castiga-me
pela vontade de te querer
dissipa-me o pensamento
confessa-me que não me queres
inveja-me com o corpo de outro
diz-me que não és minha

mas não me olhes assim

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

outros que tais






















te perco nas ruas
mas conheço o teu corpo
deixa-me ousar
ser mais um dos teus homens
deixa-me te amar

não sou igual aos demais
mas também eu tenho a mais
estes ardentes desejos infernais

teus olhos não podem sentir
o que o meu corpo te pode dar
ardem forte os leus lábios
na carne que te fez mulher

prende-me aos cristais
ouve os meus ais
e não queiras outros que tais

fecha a luz e no escuro
tacteia o meu respirar
escolhe-me como eleito
este amor também é fácil

e como nos outros que tais
também te levo a delírios finais
sem nunca sermos iguais

este corpo arde, sem se ver
faz ferver a saliva na tua pele
de um querer de não te ter
nas palavras que não falo

e quanto mais me amais
mais esqueces os outros que tais
pois eu te dou muito mais

experimenta-me, atreve-te!...
este sentir a te possuir é vício maior
(e não falo) o meu falo está na tua boca
a silenciar teus lábios a rasgar o prazer

são essas as mãos que me prostituais
como fazes a outros que tais
não me digas quem são e esqueces quais

é tão grande este excesso de ti
que nunca terás dos outros que tais

jamais

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

um outro corpo em forma ardente




























São as palavras que me fogem
se recolhem no pensamento
tornando intocável o sentimento

São as sementes da solidão
que crescem nos jardins da ilusão
de águas paradas na paisagem do tempo

São estes os últimos murmúrios
do corpo humano rendido à paixão
displicente ao tempo fora do tempo
somente à espera de reconhecer na mente

um outro corpo em forma ardente

sábado, 24 de outubro de 2009

só quero vê-la

























só quero vê-la
diante de mim
no distante
que estou de si

quem dará
aos meus olhos
um olhar
de trespassar horizontes
ao longe
onde vive ancorada
uma palavra sem som

à espera de um corpo
no último ângulo do mar
onde ventos de ternura
sopram seus cabelos

na leve ausência
deste tempo e espaço
galga a insinuante lua
provocando nos sentidos
os seus doces delírios

inquieta e semi-nua
os meus olhos
inventam os seus
num contorno de mulher

este distante
que estou de si
começa aqui

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

tenho pena




























tenho pena de não ser
as tuas mãos quando
acaricias teus seios
os teus dedos
quando masturbas
teu sexo

não tenho pena de não ser
teu corpo nu frente ao espelho
só queria ser a alma
que te possui nesse momento

é tudo o que queria
é tudo o que bastaria
apenas a tua alma

terça-feira, 13 de outubro de 2009

hoje não queria






















hoje não queria
escrever palavras
queria apenas
dar-te as minhas mãos
num poema com o toque
dos meus dedos:
nos teus seios, nádegas
e na tua pele fina e lisa
do teu corpo em fio de voo
para adormecer com a lua

és bela
(insustentavelmente bela)
faltam-me as mãos
e faltando tudo isso
faltam-me as palavras
(até as palavras emprestadas)
e fico neste espaço
de horizonte
entre a lua e este poema
sem te conseguir tocar

só com a flor do silêncio
consigo beijar tua boca
e juntar teu corpo
às palavras que não escrevo

que venha alguém


























que venha alguém
mesmo que seja ninguém
calar este silêncio
que grita em mim neste momento
que venha agora e não tarde


...este silêncio arde!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

este fim de estação




























despe a árvore
o calor do verão
vejo-te com o vestido
branco transparente
a moldar teu corpo

senti neste verão
o sangue da lua
no negro triângulo
húmido do calor do sol
a reflectir nos teu cabelos
deitados para trás
e as tuas mãos
a segurar teus seios

ainda te espero
neste outono
lembrando as tuas nádegas
redondas como o fruto
maduro e apetitoso
da estação

agora desnudas o sexo
das folhas que caiem
teus lábios ficam
a descoberto
como desejosos sucos
à espera de serem provados
antes de comido o fruto

sabor de clítoris esmagado
de onde se extraiu o vinho
das vinhas que crescem
ao lado das dunas da praia

hoje, engolindo humedeço
a boca seca do calor
escaldante desses dias:

sufoca-me este outono
esbracejo-me nos delírios
dos gemidos, dos gritos,
dos silêncios violados,
dos sonhos inacabados…

é outono
e eu perdi a coragem
de te olhar uma vez mais
(o verão é ousado)
o sol encharcou-me de luz
e agora correm as lágrimas
nas pétalas da saudade
que descem no teu corpo nu

este fim de estação
é terrivelmente árduo
obriga-me a fechar os olhos
e deitar todo este espasmo
sobre mim, mas foi assim

este fim de estação

sábado, 10 de outubro de 2009

esquece-me




























esquece-me
nesta manhã de sol
em que o silêncio acolhe
o que não pode alcançar

esquece este desejo insano
da nudez do teu corpo
deste Outono
esquece os meus sonhos
para que eles não envelheçam
com o meu corpo
esquece este segredo guardado
no enigma do silêncio dos segredos

são talvez os pássaros
os pássaros
que me trazem este fim
este último perfume deste dia
em que eu sei que tu sabes
que eu não sou eu
mas apenas um reflexo
de um instante de amor
reflectido no abismo do silêncio
da solidão destas palavras.

esquece-me

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

juízo final




























é iminente este desabar de sentimentos
palavras que ainda não são palavras
que não se separam do mundo imundo
do corpo preso nas sombras dos navios

este estar é ser num repouso irrequieto
num vazio esculpido na orla da vida
tudo está imerso nesta inquietação
na palavra dura e crua desta humanização

cai a última inocência perdida
e num templo ajuízam-se os culpados
lúcifer desejoso de queimar o perdão
transfigura o sujo do mundo na origem
nos presságios exilados na ferrugem
a lavar as mãos na árida avidez da consciência

se uma palavra ao menos pudesse descobrir
a transparência nítida das coisas
uma vontade de salvar esta desordem
sossego que nenhum deus se atreve a quebrar

nada mais sei dizer deste descontentamento
o mundo ainda não julga as palavras por igual
até ao dia em que as vai escrever no juízo final

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

instante




























tão breve este momento
que já se perdeu no começo
um excesso de ter o instante
a terminar este sonho no princípio

...

compõe-se o acorde no instrumento
só a cor da musica fica

terça-feira, 6 de outubro de 2009

silêncios




























a lua olha sobre mim
um olhar que ninguém vê
a cintilar na água dos meus olhos

é um sonho que cai levemente
no mar negro da minha íris
onde palpitam ondas
ao ritmo tranquilo do meu coração

a noite faz descair
lentamente o teu rosto
para que eu beije o teu segredo
na tranquilidade que seduz os meus sentidos

dócil crepúsculo nupcial
na sede lisa da pupila
entre o lábio da lua e o meu
o sonho do mundo é uma palavra:

silêncios

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

se puderes aceitar este azul




























se puderes aceitar este azul
na cumplicidade com o mar
com o teu excesso de corpo

na nudez selvagem do teu busto
fúlgido de mulher adormecida
num mar de espuma
num fogo que arde a água
no histerismo dos desejos
voluptuoso sentir entre amantes

se puderes aceitar este azul

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

engano violador



desliza o silêncio
na cor dos teus lábios
sinto dentro a ferida
de carne viva
do teu sexo rasgado

o teu vestido branco
tenta esconder
esse corpo
que chamou o engano

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

espero por ti nas coisas mais simples




























espero por ti
nas coisas mais simples
nos espaços que crio
reinvento-te
no mar da lua
onde navegas nua
e contemplo o
teu tempo
como um marinheiro
sem amarras
ao sabor da corrente
até que a lua venha
fazer amor com o mar
e a tua face em fase
da lua cheia
brilha dourada nas águas
até ao acordar do sol
nos teus olhos

na terra
onde te contemplo
o sol põe-se quando
nasce o dia
neste intervalo de tempo
desces até a mim
e fazes amor comigo

domingo, 27 de setembro de 2009

como dói a madrugada!






















sob os lençóis
deslizam silêncios
nas mãos flutuam
carícias aos seios
a língua desceu
em passe de ballet
presa na emboscada
da selva de sangue
dos sentidos

por fim consegui
um pouco de solidão
na imagem do vermelho
do teu rosto

retardei a alvorada
para prolongar
a noite
no desejo da lua

mordo a ferida
e ela nua
atravessa o quarto
o liquido se espalha
fecho os olhos
sobre a incerteza

como dói a madrugada!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

não consigo fugir mais aos teus olhos




























não consigo
fugir mais
aos teus olhos

esse teu sorriso
tão leve de menina
em sedução de olhar
de mulher felina

diz-me antes não
não me deixes assim
carente de tudo
(menos desta ilusão)

não deixes em mim
este bater de pobre coração
andar por ai (perdido por ti)
diz-me antes não

ou então

(acaba com este fim!)
Diz-me apenas sim...

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

duplicidade cúmplice





















elejo a confusão
peço auxilio aos sonhos
mas irrequieto fico
com a palavra suada:
vinda de longe, muito longe
além do sonho, além da alma

tão extático este espaço
mundo real da fantasia
diálogo sem narrador
dos contos de criança
identidade autêntica ou de fábula
duplicidade cúmplice
enclausurada entre dois eus

uma vontade de sair da ausência
outra de ficar entre a vacuidade
quem sou eu sem este excesso?
serei uma exuberante confissão
da palavra parida no mundo da fantasia?
ou obedeço ao ser finito
embuçado na malha do verbo amar
que em pura ignorância
tenta escrever o verbo do silêncio
na imensa vastidão do mar?

o silêncio


























é sempre
a mesma pergunta
é sempre
a mesma resposta
aqui estou de novo
lado a lado
a falar com ele
murmuramos
os dois
e
é sempre
a mesma pergunta
é sempre
a mesma resposta:

o silêncio

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

fecha os olhos e esquece




























fecha os olhos
e esquece
que eu já te vi chorar

o meu olhar
acaricia as tuas lágrimas
guardadas dentro do baú
do teu último sorriso

o outono cala-se.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

noite após noite

Se te gerei não sei, nem sei se vieste de mim, nem tão pouco se te quero assim, só sei que perdes a figura do dia quanto te enlaço. Inquieta-me não saber bem do que falo, se te imagino ou apenas quero falar de mim.

Perdida em ciúmes, deixaste o dia não amar mais o Sol, essa luz que tudo ilumina. E tudo apenas porque tu me amas mais; tomas o meu corpo e alma e dá-lhes vida na forma de estátua inquieta num obscuro fim.

As cores que o Sol espalhou despegam-se para se agarrar a mim, apago-as e refaço-as em outras cores mais intensas com que pinto, em tons claros, os afogos de gente que se despe da claridade bordada em raios de oiro para vestir o escuro nu.

Um mundo que existiu outro que está para vir, definir-te não sei, entender-te eu queria, mas que posso eu fazer se não consigo saber o que acaba e o que principia? Serás imagem do pecado como um chão rasgado? Pedra fria de calçada que se aconchega na noite com o pó da melancolia, trazendo a saudade na primeira estrela do céu que brilha? Ou serás apenas mera comoção de pegadas asparas do dia? Amor, sentimento, folha fugidia dos meus pés, que caminham num bosque adormecido de pobres sem manto e de cegos que só vêem a luz da noite nas sombras claras (feitas escuras) de luar que encobre com véu a palidez dos seres!

Como te queria entender escuridão! Esse sustento da vida que se esconde na noite nos candeeiros que cantam melodias de jasmim. Apagados da força do Sol adivinham os instintos dos desejos de corpos nus triunfantes às almas suadas: presas no escuro, em tépidos sonos de dança nocturna, onde o sangue que se agita e ferve faz criar os espinhos onde nascem as rosas.

Noites inteiras fico sem saber, oiço silêncios em gritos de espasmos, cerrados em limites ilimitados entre (des)encontros de paixões. Esta é mais outra noite. E noite após noite, vagueio na escuridão da vida e, no seio de todos os seres deste universo, passo a vida a estudar os seus gestos. Tudo o que encontro é uma conturbada imagem sem destino… Apenas sei que os meus olhos vêem mais do que deviam, mais do que de dia e acabo por saber que não sei deste tempo a que me rendo a ver para não me ver. E cego só consigo entender as imagens na escuridão da noite. Serei eu ou apenas ela?

domingo, 13 de setembro de 2009

será um sinal de ti?




























apenas sinto a palavra escrita
quente húmida
vinda de ti
beijo o teu poema
na exuberante
vibração de cada fonema
tacteio teu jeito sedutor
em murmúrio do gemido
ao espasmo da erecção
do corpo nu das palavras
abraço aperto
na verbosidade do teu ser
a virgula a frase
invade o texto
e se entrega ao orgasmo

a folha molhada
passa pelos lábios
o sémen goteja o branco
as letras caem e o sexo arde

o poema já não existe
apenas a saliva que lambe
o sonho rasgado
bordando ao longe a lua
que embate contra o meu peito
será um sinal de ti?
é forte este sentir
(a lua é agressivamente bela!)

à noite o céu vai estar encoberto
com teu corpo nu todo descoberto.
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