«que sentir é este sentir dos meus sentidos a sentir?»

«os sentidos são a engenharia da arte e o sentimento o projeto»

sábado, 5 de janeiro de 2013

após chegada a madrugada


sai comigo pela manhã
quando o dia ainda é pequeno
deixa-me sentir-te amanhecer
ver o despertar do teu cabelo
a cintilar pelo o ar

no teu suave respirar
seguir a brisa das árvores
a desviar a direcção do vento
e acompanhar teus passos

voar com os pássaros
famintos na nova madrugada
experimentar a fome
inconstante dos teus olhos
a colher o meu primeiro sorriso

olhar as flores que se abrem
nos primeiros raios de sol
a fazer sentir o calor a subir
por entre as tuas roupas
que te faz querer ficar nua

ver-te nascer
na tela branca da alvorada
com as tuas cores e cheiros
a ensaiar este cenário matinal
projectado em montes e vales
na refulgente água dos rios

(eu só quero apanhar a saliva
trazido em teus lábios
onde nasceu a luz solar
numa pequena manhã
que clareou as tuas curvas
e a humedeceu a tua pele
do orvalho das flores
ainda com o hálito fresco
e virgem do começo de um dia)

…eu vou esperar por ti deitada
numa improvável tarde amadurecida
após chegada a madrugada

te posso ter



faço de ti
escultura de pedra
e assim sempre
quando estás ausente
posso sentir
a tua pele
tactear 
as tuas formas
extasiar-me
no calor
de teu corpo
colar meus lábios
nos teus seios
e aspirar o odor
do teu suor

de vez enquanto
com a minha mão
arranco o meu coração
coloco no teu peito
e dou-te vida

nestes breves instantes
entre um e outro bater
eu te amo e te posso ter



qual vida que salta!



uma vida embalada

em papel de embrulho

um laço vermelho

a unir a coragem

de espreitar a surpresa

quando o papel se rasga


assim já foi pandora…

qual vida que salta!



bofetada



jamais poderei ter
a tua beleza de mulher
os homens como eu
choram sem lágrimas

lágrimas de nada
não podem ser beijadas
por uma mulher
que é tão desejada
 
mulher assim não tem alma
mas têm as suas belas mãos
preparadas para a acção
da sua louca tentação
em sentir a nossa cara

(o resto não importa
em mais nada ela toca)
  
só ficamos pela bofetada




quem sabe se existo?




tanto me canso

neste insustentável

embrulhar de sentimentos

momentos que sinto

neste universo infinito

onde nem deus

ouve o meu grito


quem sabe se existo?

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

dois em um só



às vezes chamo por ele
o outro meu que não é meu
o que se exalta em sentimento
o que não lamenta nem blasfema

às vezes queria estar sempre com ele
aquele que diz que o sonho é vida
porque vive sonhando
um sonho que está a ser sonhado

às vezes queria não ter coração
para poder ser dois -  eu e ele
uma emoção e a razão
um menino e um homem

o puro amor e o nato desejo
a forte paixão e a firme certeza

como não queria ser partido
não ser a sombra nem reflexo
a mão que escreve e a que dita
a face oculta e a que grita

tenho saudade de uma ausência
a parte inteira de dois em um só



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