«que sentir é este sentir dos meus sentidos a sentir?»

«os sentidos são a engenharia da arte e o sentimento o projeto»

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

FOGO NAS VEIAS




























Há rios nas tuas mãos
que desaguam no teu corpo ardente,
entre margens brancas de areia,
Peixes chegam pela manhã
em alvos de água transparente,
deixando reflectir teu corpo nu
no trigo verde que se desfaz nas ondas,
onde descansam sonhos dispersos
gozando do calor das planícies.
E os nossos corpos tocam-se
com o ar das águas e dos campos.
Não sei se és gente, corpo ou alma
Pouco me importa, neste instante,
o que afogueia as minhas veias…

© Jorge Oliveira
Publicado no RL em 05/08/2008
Código do texto: T1113984
FOGO NAS VEIAS

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

NATUREZA MORTA




























Repousam rosas vermelhas
colocadas na jarra sobre a mesa,
misturam as sombras das paredes
por fios de luz que reflectem das cortinas.
O calor lá fora esquece o fresco interior
e afasta o horizonte de silêncio.
Brilham ainda vivas, é belo vê-las…
Parecem encobrir a noite que vem
com mistérios de perfumes
querendo chamar por alguém:
como pássaros que cruzam o interior
daquela vida exposta ao encovo do mundo.
Simples sentidos vividos neste dia
gravados em sons de cores e harmonia
que leva toda a essência da vida
apenas num breve segundo.
As rosas brilham sobre a mesa
como se fossem letras para mim
Amanhã é outro dia e o seu brilho já não é assim,
tal como a tela da minha poesia.

© Jorge Oliveira
Publicado no RL em 04/08/2008
Código do texto: T1111887
NATUREZA MORTA

terça-feira, 12 de agosto de 2008

A CEGUEIRA DE DEUS!...






















O que poderá ver
quem um dia cegou?
Será o seu prazer
um indeterminável voo?

Eu, porém, cego não sou:
persegue-me uma luz,
como fosse uma cruz.

Será porque vejo
que tenho essa liberdade
de sentir esse desejo
de tal infelicidade?

Bem visto, eu vejo
a vida num ensejo,
vida que tanto aborrece
quem nesta vida padece
de tristeza mal merecida.

E porque vejo;
ficou-me na memória
aquele último beijo
dado sem qualquer glória
na face da criança sem sorte
que não teve o pão presente
no dia da sua morte
(essa criança também era gente).

DEUS, diz-me lá:
- AQUI ALGUÉM SENTE! SERÁ?
se NÃO, leva no vento
este estado descontente
do meu pensamento.
Faz-me ficar calado
ou traz-me o passado
de quem eu deixei matar.

Saberei o que digo?
Ou estarei só a falar comigo?
(Não Te tenho como inimigo).
Mas, porque existe este fim?
Tudo é contrário assim:
deixa-me morrer antes a mim.

Em Ti eu pus esperança,
mas no meu grito agora se descobre:
que perdi a confiança.
Faz de mim, rico, um pobre
e depois: agora sim,
faz-me o mesmo que à criança
dá-me idêntico fim
para eu acreditar em Ti.

Se Tu não és cego, Oh Deus!
Dá-me a sentir essa morte,
não leves a criança, mas eu…
para divisar essa fome forte.

Sou só um simples mortal,
não Te posso julgar afinal!…

© Jorge Oliveira
Publicado no RL em 04/08/2008
Código do texto: T1111858
CEGUEIRA DE DEUS!...

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

VOLTA ATÉ MIM






















Ando vagueando
em dormentes estados
de coma vegetal de sonhos
(fico inerte no sofá)
Se soubesses desta tristeza
se a pudesses sentir
voltavas até mim
num silêncio qualquer
só para me abraçar
Sentirias o meu corpo levitar
Entre uma qualquer palavra
(palavras que não esqueço)
vinda da tua voz de silêncio
que tanto me habituaste

Peço-te, volta até mim
Não venhas em corpo
nem tão pouco em alma
Volta na forma de ausência
em silhueta embaciada
no espelho da minha memoria
mesmo que uma lágrima de vidro
torne os meus olhos baços
mas que me faça sentir
as células dentro de mim

Vem, volta até mim
Deixa-me sentir teu corpo
em aceno ao vento
a despir-te por dentro
A desenhar teu rosto
com traços delineados
esboçando ruínas
dando forma real ao meu

Vem, vem com as andorinhas
de lugares distantes
pelas correntes de diamantes
que te conduzem até mim
com um outro qualquer fim...
Traz somente contigo o silêncio
Esse silêncio que me faz gritar
Amar! Amar!

© Jorge Oliveira
Publicado no RL em 19/05/2008
Código de texto: 996440
VOLTA ATÉ MIM
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