«que sentir é este sentir dos meus sentidos a sentir?»

«os sentidos são a engenharia da arte e o sentimento o projeto»

sábado, 1 de dezembro de 2012

tu sabes amar


 
seguras
o copo de cristal
lamentando o amor
que já não te ama


murmúrios vãos
das promessas
de prazer do amanhã
do lírio a se unir à rosa


perfume nos campos
do sémen derramado
no seu gineceu


pétalas
cruelmente sacrificadas
é alegria de um deus ateu


e a criança
escondida atrás do tronco
a ver o lugar onde ela ama


inocência
de rosa - flor em chama
a sentir a morte

constrói seu túmulo
voltado a norte
para poder semear rosas
no mar azul do sul


o seu coração
bate agora no céu
e sente a vitória
da sua glória


triste
é aquele que nunca
conheceu uma rosa


afinal
o sol amanhã vai brilhar
tu sabes amar

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

lembro-me do dia




lembro-me do dia
em que violentamente
morria sufocado
pela tua saliva

lembro-me do último
sentido do paladar
do veneno enfermo
(sem antídoto ou cura)
dessa louca união

lembro-me de sucumbir
afogado no suor
dos nossos corpos
de tanto esgotados
das suas colisões corporais
a espalhar gemidos infernais

indolor e sem sofrer
não consegui sentir
os seus efeitos colaterais

acidente fatal
sem ninguém para socorrer
fosse para bem ou mal
(desejasse ou não) 
teve que acontecer

lembro-me da minha sorte
após perecer de tanta paixão
deu-se a vida depois da morte


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

és de mim para mim






por detrás da janela

entre o vidro fosco

espalhavas teu perfume

de leve pelo vento


estava frio

mas eu senti

um hálito quente

o ruído que se ouvia

na inquieta rua

transforma-se em desejo

e eu te vi nua


eras um retrato

das minhas mãos

onde há muito existias

dentro de mim

e tu não o sabias


sabes agora

que sempre foste

de mim para mim

domingo, 25 de novembro de 2012

rosa



procuro-te
por todos os lugares
tento chegar ao aroma
do teu perfume
numa rosa vermelha
mas não te encontro

a roseira sorri para mim
solta uma pétala
que entra em minha boca
onde posso saborear esta paixão
mas tudo é uma quimera
é outono e tu não estás
apenas uma folha cai
e vem ter comigo a meus pés

fico atento ao vento
esperando ouvir
os teus suspiros
mas não te oiço
e neste ar que respiro
procuro sentir teu corpo
mas não acaricio
a tua suave pele

o vento alegra-me
com outra folha de outono
a cair a meus pés

abro os meus olhos
e não te vejo
não te sinto nem te toco
esta impossível
capacidade de te ter
nos meus sentidos
atira-me para
o labirinto da minha morte
não encontro a saída
que abre a tua porta

fecho os olhos
tentando morrer sozinho

com os olhos fechados
vi uma luz brilhante
(não sei se morria ou vivia)
a luz aproxima-se mais de mim 
e por entre ela
surgia a tua imagem 

via-te agora diante de mim
vieste ter comigo
com a rosa vermelha ao peito

afinal os sentidos enganam
só o sonho repara as suas falhas

atirei as duas folhas que vieram
cair a meus pés
para cima do teu ventre
onde se uniram e fecundaram
um filho meu

a que chamei

ROSA

















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