«que sentir é este sentir dos meus sentidos a sentir?»

«os sentidos são a engenharia da arte e o sentimento o projeto»

sábado, 17 de maio de 2008

FRÁGIL OLHAR




















Olhei a onda de fogo
a trazer a flor anunciada
numa lágrima salgada
de um breve desgosto

Abracei o altar devoto
nos confins dos tempos
no vermelho celibato
que escutei nos ventos

Nas etéreas mágoas abstractas
Sacudi figuras do nada
em fonte cristalina de poetas
feitas da pedra que meditava

Era frágil aquele olhar
pudesse eu parar por ali
até à sombra escura do luar
pudesse ser breve – sim!

Não, não espero este viver
(seria pouco interessante)
que Deus me leve este saber
em pétalas de céu fulminante.

© Jorge Oliveira
Publicado no R. Letras em 16/05/2008
Código do texto: T992490
FRÁGIL OLHAR

quarta-feira, 14 de maio de 2008

AUSÊNCIA





























De repente, no tardio da noite
Que verte estrelas em semente
Orvalham faltas inexplicáveis,
Vindas do silêncio vazio da mente
Tornando a ausência em gente.

São nostalgias de mares,
Imaginárias paisagens,
Vida que poderia ter sido,
Em outro lado e momento,
Mas que se perdeu no tempo.

E me falta mais, muito mais,
Pois falta tempo, falta alento,
Falta um murmúrio no vento
Que me traz de bem longe
O instante que me fez calar,
Sem nada conseguir entender,
Tentei no silêncio somente escutar.

E faltando tudo isto
Falta o fundamental
Que preenche este vazio
Que sinto no lugar
Que em mim deveria estar.

No meu quarto te procuro
Tacteio, vacilo e acaricio
Mas só encontro este vazio
Dando por mim, agora sozinho
Sentindo a falta do teu ventre macio,
Feito de céu com fios de linho.

Neste noite escura, já tardia
Que verte uma gota em semente
Percebi em tão pouco tempo
O que o tempo quis esquecer
Pela minha falta de ausência
Fiquei com a mágica essência
De uma lembrança latente.

© Jorge Oliveira
Publicado no R.Letras em 07/05/2008
Código de texto: T978686
AUSÊNCIA

segunda-feira, 12 de maio de 2008

SE EU FOSSE POETA!




























Ai, se eu fosse poeta!
Seria o poeta do mar.
Escrevia uma e outra poesia
Na rocha morta pelo luar ausente.
Falava de tempestades e de gente,
Levados no barco afundo incendiado de água,
No longínquo e inquieto momento,
Em palavras azuis em falas de mar,
Rebentadas pela violência abrupta
Da espuma branca de sabor a sal.
Gritava em ecos de catedral
Nas grutas e gargantas fundas,
Encrespadas na costa pelo vendaval.
Como é frágil a vida que nas águas flutua!
Como um mastro de bandeira a agitar as ondas,
Soluçando seus últimos momentos,
Num enlaço de água de todos oceanos,
Fluindo no seu coração aberto, rasgado pelo vento.
Por onde navegam os sonhos e a aventura,
Molhados na fantasia, buscando a conquista,
Em algas de muitas cores de outras águas
Que o mar resguardou como refugio do calor,
Mas que regressaram em forma de flor.
Mas eu ando na praia, não sou poeta
Chego só á beira-mar para molhar os pés
Na onda rasteira que se abriu à vida inteira
Com as lágrimas frias que a tornou salgada
Aqui fico a contemplar as margens do horizonte
Onde vejo a criança que brinca na areia
Cheia de Esperança, a sorrir na face do mar.
Deixando à minha volta raios de pôr-do-sol
Que me fez recordar uma qualquer saudade.

© Jorge Oliveira
Publicado no R. Letras em 12/05/2008
Código de texto: T985882
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