«que sentir é este sentir dos meus sentidos a sentir?»

«os sentidos são a engenharia da arte e o sentimento o projeto»

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

o monstro sou eu e eu nunca notei

a noite esta sem lua
não vejo as sombras da vida,
a tua ausência torna as horas
uma a uma cada vez mais frias

no campo

o branco das flores 
das amendoeiras
impedem a tua presença
são tão breves os seus dias
para poderem mostrar sua beleza
que eu não posso negar
a luz fusco da escuridão
para em seus últimos momentos
ficar por lá as contemplar

a noite avança o frio queima
a aragem vem na escuridão
para esconder as silhuetas
tatuadas de desilusão

pétalas caem pelo chão
deixando um tapete branco
que o vento vai desenrolando
à medida dos meus passos
perfumando de branco

a paisagem do intenso preto
vida e morte
sonho e hediondeza
a satisfazer o prazer da noite
e a elogiar a tua ausência

só ouço vozes e murmúrios
dos fantasmas do dia
que ainda insistem no teu rosto
e diante uma janela embaciada
tentam criar a tua presença

a noite sabe mais do que devia
sabe bem que é escura
por mais que tente tatear
ouvir e cheirar na sua negrura
não deixa ver o lugar
onde habitas e me podes amar

eu não te vou poder achar
lembro-me que em menino
eu não tinha medo do escuro
apenas receava não encontrar
a bela e monstro a namorar
 

agora entendo
esta minha decepção
afinal a bela é ela


o monstro eu não o encontrei
foi então que percebi
que o monstro sou eu
e eu nunca notei

Sem comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...