«que sentir é este sentir dos meus sentidos a sentir?»

«os sentidos são a engenharia da arte e o sentimento o projeto»

sexta-feira, 4 de abril de 2008

ETERNA CARICIA





























Vi um rosto amparado pelo encanto
Vi-o assim, tão belo, sem face, sem eco
Olhei o céu e a terra vi como é perfeita a união
Olhei a mim e a ela vi como é fel a desproporção.
Foi assim o princípio desse dia em que a vi
Era melhor morrer nas palavras que sentia
Um fogo ardente que logo de manhã
Nos meus lábios fechados corria.
Amá-la uma só vez era tudo o que queria
Se todas as coisas provém do sonho
Eu queria ser a chama da eterna beleza
Alma perdida penetrando dentro de si, possui-la.
Ser pomba branca ou cavalo selvagem.
Nesta selva agreste, por entre as horas vagas
Procuraria a delicada perfeição do seu corpo celeste
Me aconchegaria suavemente nos seus rígidos seios.
É tanto o desejo de amar que não cabe em um só mar
Queria vê-la despida, nua nos meus braços a adormecer
Os pequenos dias deste Inverno seriam tanto maiores
Contemplando um sorriso ou uma lágrima dos seus olhos.
Este era o rosto que a minha noite descreveu
Com as sombras de um coração enfeitiçado pela lua
Vagueando na madrugada verde húmida de orvalho
Com árvores despidas, parecendo moribundas
Mas apenas adormecidas de um verdadeiro êxtase
De toda a seiva ardente que nas suas entranhas entrou
Num dia em que sol no seu esplendor as amou
Tomando o seu corpo inteiro no meu em forma de ser
Com a luz brilhando nos meus olhos mudos.
Sei que não haverá nunca um dia
Um dia a contemplar a sua pele macia
Limpa, doce que eu marotamente a mordia.
Nada direi para não entristecer meu coração
Não pude destruir os traços desse seu corpo
Os horizontes, as madrugadas, os alentos
Já mais poderei trair um olhar, nem falar ao vento.
Continuarei a ver e a querer possui-la sempre
Vagueando por entre o silêncio das estrelas
Nas palavras escritas sem tinta e nunca ditas.
Irei recorda-la apenas nesta manhã fria.
Porque ela assim fica, tão distante de mim.
Ficarei com os vestígios do toque dos seus dedos
O abandono das minhas mãos que lhe tocaram sem saber
Neste silêncio absurdo só uma memória fica
Uma e outra a ser outra, pura e eterna carícia.


© Jorge Oliveira

Publicado no R. Letras em 04/04/2008
Código do texto: T930697

2 comentários:

Inês de Castro disse...

"(...)Vagueando por entre o silêncio das estrelas
Nas palavras escritas sem tinta e nunca ditas.
Irei recorda-la apenas nesta manhã fria.
Porque ela assim fica, tão distante de mim.
Ficarei com os vestígios do toque dos seus dedos
O abandono das minhas mãos que lhe tocaram sem saber
Neste silêncio absurdo só uma memória fica
Uma e outra a ser outra, pura e eterna carícia."

Mais uma vez fico sem palavras...
IC

Unknown disse...

Eu também fico sem palavras capazes de mostrar todo este encanto que tem com estas palavras que escrevo, mas uma é universal. OBRIGADO.

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